




O mergulho está enraizado nas origens do homem, no comércio, salvamentos, construções marítimas, explorações de riquezas e mesmo em operações militares. As atividades de mergulho remontam mais de 5000 anos, na colheita de esponjas e de pérolas. " O mar é algo amedrontador no melhor dos tempos. Quão mais aterrorizante deve ser para essas pobres mulheres mergulhadoras que têm de descer às profundezas para assegurar sua sobrevivência. Fica-se a pensar o que ocorreria se a corda que lhes envolve a cintura se rompesse. Depois que a mulher foi baixada na água, os homens se sentam confortavelmente em seus barcos, cantando animadamente enquanto ficam de olho na corda roxa escura que flutua na superfície. É uma visão surpreendente, porque não demonstram a menor preocupação com os riscos que a mulher está correndo. Quando finalmente emerge, ela dá um puxão na corda e os homens a içam para fora da água com uma rapidez que bem posso compreender. Logo ela está se agarrando à borda do barco, a respiração vindo em arquejos penosos. A visão é suficiente para fazer mesmo um estranho sentir água salgada pingando. Não consigo imaginar como alguém pode ambicionar este trabalho. " 4 |
A procura de condições para continuar mais tempo no fundo e alcançar maiores profundidades, levou a pensar que seria possível faze-lo com um tubo respirador. Inúmeros projetos foram criados usando capas de couro com tubos flexíveis longos conectados à superfície por flutuadores. Não há registro que alguns destes dispositivos fora construído e testado. O resultado do teste de um dispositivo destes seria o afogamento do mergulhador. A uma profundidade de 1m é praticamente impossível a respiração através de um tubo. A pressão externa da água não permite o movimento torácico na respiração. Durante toda a história, muitos dispositivos foram projetados tentando superar este problema. No início, o problema da pressão hidrostática não foi bem compreendido e os projetos eram pouco práticos. Um grande número de projetos era baseado na idéia de um saco feito de pele de animais cheios de ar, como se fosse um tanque de ar mas este sistema era praticamente impossível submergir preso a tal aparato.
Em uma carta a um editor de um periódico em 1749, o inventor descreve que sua profundidade normal de operação era de 18m, podendo ir a 21m permanecendo submerso por 34 minutos. Diversos projetos similares ao de Lethbridge foram usados em anos subsequentes. Entretanto, todos tiveram a mesma limitação básica que o sino, pouca liberdade e falta de fornecimento contínuo de ar. Por volta do século 19 uma descoberta tecnológica foi desenvolvida. Um bomba capaz de fornecer ar sob pressão . Diversos homens produziram instrumentos viáveis ao mesmo tempo. Em 1823, John e Charles Deane, patentearam um projeto básico para bombeiros moverem-se na fumaça de edifícios em chamas. Por 1828, o instrumento evoluiu para um traje de mergulho com proteção contra o frio e um capacete com viseiras e conexões com mangueiras para fornecimento de ar da superfície. O capacete era apoiado nos ombros do mergulhador, fixo por seu próprio peso e correias na cintura. O ar renovava-se bombeado da superfície e o excesso saia pela borda inferior do capacete sem nenhum problema se o mergulhador permanece-se ereto. Se caísse, entretanto, o capacete poderia encher-se com água.
Traje de Siebe Ao mesmo tempo que o traje de mergulho era aperfeiçoado, trabalhava-se para melhorar o sino de mergulho, aumentando seu tamanho e adicionando bombas de alta pressão para manter a água fora deles. A evolução das bombas fez com que logo se construíssem câmaras grandes suficientes para alojar diversos homens trabalhando no seco, acoplados ao fundo. Isto era particularmente vantajoso para os projetos tais como fundações de pontes ou construção de seções de túnel. Estas câmaras secas logo ficaram conhecidas por Caissons, palavra francesa que significa caixões. Os Caissons eram construídos com tanques laterais de flutuação e levados ao local de trabalho onde eram submergidos. Projetados para fornecer acesso rápido da superfície. Pelas escotilhas, materiais e os homens podiam ser mantidos trabalhando sob pressão e podendo entrar e sair através destas. Com o uso crescente dos Caissons, uma moléstia nova e inexplicável começou a afetar os trabalhadores. Depois do retorno a superfície, os mergulhadores freqüentemente desmaiavam, respiravam com dificuldade, ou tinha dores nas juntas e abdômen . O paciente geralmente se recuperava, mas ficava freqüentemente com seqüelas. Caissons J. S. Haldane, um fisiologista inglês, conduziu experiências com mergulhadores da marinha britânica de 1905 a 1907. Determinou que parte do problema era porque os mergulhadores ventilavam inadequadamente seus capacetes, fazendo com que acumulassem altos níveis de dióxido de carbono. Para resolver o problema, estabeleceu que um fornecimento de 40 litros de ar por minuto, medidos na pressão de trabalho. Bombas capazes de gerar o fluxo contínuo e ventilar o capacete foram usadas. Haldane compôs também um jogo de tabelas de mergulho estabelecendo um método de descompressão com estágios. Com o passar dos anos estas tabelas foram aprimoradas, mas a base continua sendo a mesma. Logo os mergulhadores estavam em águas mais profundas e um outro mal começou a aparecer. O mergulhador parecia intoxicado, às vezes eufórico e freqüentemente perdendo o julgamento a ponto de esquecer a finalidade do mergulho. Na década de 30 esta euforia ou “embriagues das profundezas” foi ligado ao nitrogênio contido no ar respirado sob elevadas pressões. Conhecido como narcose por nitrogênio, ocorre porque o nitrogênio tem propriedades anestésicas que tornam-se progressivamente mais severas com acrescente pressão do ar respirado. Para evitar o problema, misturas especiais como hélio-oxigênio foram desenvolvidas para mergulho profundo. Traje Rígido MK 12 E MK 5 Ao mesmo tempo que as operações reais de combate eram realizadas com equipamentos de circuito fechado, dois franceses conseguiram uma descoberta significativa no projeto do equipamento autônomo de circuito aberto. Trabalhando em uma vila mediterrânea pequena, sob condições difíceis e restritivas na França ocupada, Jaques Yves Cousteau e Emile Gagnam combinaram um regulador de demanda com tanques de alta pressão com ar comprimido e criaram o primeiro equipamento de circuito aberto eficiente e seguro chamando-o Aqua-Lung. Cousteau e seus companheiros aprimoraram seu equipamento desenvolvendo técnicas e o testando enquanto exploravam e fotografavam naufrágios. Jacques-Yves Cousteau Este sistema é a culminação de centenas de anos de progresso, misturando o trabalho de Rouquayol, LePrieur e Fleuss. Cousteau usou seu equipamento a mais de 50m sem dificuldades e com o fim da guerra transformou-se rapidamente em um sucesso comercial. Hoje o Aqua-Lung é o equipamento de mergulho mais utilizado no mundo subaquático. Qualquer pessoa com treinamento adequado pode utiliza-lo no mergulho. A liberdade que o Aqua-Lung propicia no mergulho causou um rápido interesse no esporte tornando-o muito popular. Assim como o esporte a ciência e o comercio se beneficiaram, biólogos, geólogos e arqueólogos descobriram novos indícios na origem e comportamento da terra, do homem e da civilização no todo e a industria principalmente na prospeção de petróleo. Desde a Segunda Guerra Mundial, as técnicas de mergulho evoluíram muito. Uma geração completa de equipamentos sofisticados é lançada no mercado quase que anualmente. Fontes de pesquisa: |
História do Mergulho
Escavações na Ásia Menor e o Egito realizadas encontraram ornamentos de madrepérolas, com datas de 4500/1500 a.C.; também na Babilônia e Tebas se encontraram jóias com incrustações de pérolas procedentes de épocas similares, o que demonstra que o homem mergulhava para a extração e coleta e ostras perolíferas.
Outro dado muito significativo se refere à uma descoberta dentro das ruínas do palácio do rei persa Assurbanipal II, de um desenho em baixo relevo procedente do ano de 880 a.C., no qual se constata perfeitamente a figura de um guerreiro provido de um odre (saco feito com pele de carneiro), abaixo de seu peito, como se fosse um saco respirador, em posição de natação. Parece que representa o próprio rei cruzando um rio à frente de seu exército, como retrata a ilustração.
Na cidade de Tiro (Fenícia), onde o comércio da púrpura era muito próspero, se encontram abundantes restos deste molusco, cuja coleta só era possível com submersão ao mundo aquático.
Do reino de Creta ao império Ateniense
Onde se começa a ter uma informação mais completa da atividade de mergulho do Homem é em Creta, cuja época de máximo esplendor se remonta aos anos 3.000 a 1.400 a.C., anos em que foi a primeira potência marítima do Mundo. Nas escavações realizadas se encontraram abundantes restos arqueológicos que permitiram reconstruir parte do interessante passado do povo, destacando, para nós, as informações relativas à relação do homem com o fundo do mar: plantas marinhas, peixes, ouriços, etc. Também a mitologia da época nos dá um relato expressivo relacionado como mergulho: a famosa história de Teseu, o herói ateniense que segue à Creta para matar o terrível Minotauro do palácio de Cnosos, e a que desafiou o legendário Rei Minos a recuperar uma anel de ouro do fundo do mar, ação que Teseu terminou com êxito, se mostrando um grande mergulhador.
Mas se em Creta parece que se iniciou a atividade subaquática, é sem dúvida na Grécia o país onde esta atividade alcançou um maior auge; dali nos chegam narrações realmente interessantes a respeito desta atividade. A primeira delas se refere ao mito de Glauco, controvertido personagem que se apresenta como um simples pescador da Beócia e outros lhe relacionam com os tripulantes da lendária nau Argo, em busca do Manto de Ouro. Em qualquer caso, sua história é curiosa. Dizem que um dia, quando regressava de sua atividade de pesca, colocou os peixes sobre umas ervas que cresciam na orla do mar e que o contato com estas ervas, reviveram. Diante destes acontecimento extraordinário, Glauco não pode evitar a tentação de verificar o porque daquele fenômeno e, assim, colocou na boca um punhado daquelas ervas, observando que lhe causava enamores desejos de submergir e comprovando que podia permanecer debaixo da água quanto tempo desejasse. Dizem que a partir daquele momento, ganhou a confiança das divindades do mar, tendo o Rei Poseidon lhe elevado à condição de divindade. Suas largas permanência abaixo d'água lhe deram um aspecto entre homem e peixe, com seus cabelos e barbas tomando uma cor verde, similar as das algas marinhas.
Existem outros fatos em que a realidade se mistura com o mito, como no caso de Glauco, e que nos são bastante surpreendentes. Uma deles teria acontecido no ano 484 A.C., durante a batalha do cabo de Artemisa entre Gregos e Persas. Os protagonistas foram dois personagens, pois eram os excelentes mergulhadores da época: Escilias de Esción e sua filha Ciana: ambos submergiram protegidos pela escuridão da noite e debaixo de uma forte tormenta, conseguindo chegar sem serem avistados até onde estavam ancorados os barcos persas, cujas amarras cortaram, causando um verdadeiro desastre que valeu a vitória dos Gregos. A importância desta façanha que, para imortaliza-la, foram erigidas estátuas de ouro em Delfos. Contam que o imperador Nero, em suas viagens por terras da Grécia, no auge de seu império, viu ambas as estátuas e ficou encantado com a beleza de Ciana, tendo levado secretamente sua estátua para Roma e que a imagem hoje conhecida como Vênus de Esquilo não é nada mais nada menos que a bela mergulhadora Ciana.
Outro testemunho do conhecimento que os gregos tinham da natação e do mar em geral é o fato de que, durante a batalha de Salamina contra os persas, estes últimos, que em sua maior parte desconheciam a natação, quando caiam ao mar, durante a luta, logo se afogavam, enquanto os gregos, muito mais espertos, retornavam à batalha com mais ímpeto, condição que valeu a vitória grega. Esta aptidão dos gregos para a luta no mar justifica o fato de que na Grécia se rendia um grande culto à natação, até o extremo de que chamavam de analfabetos aqueles que desconheciam a natação.
Logo após, naquela época, se utilizava na Grécia, uma aparato para submergir e permanecer debaixo d'água, que denominavam de "Lebeta", que era a primitivo sino de mergulho. Aristóteles havia mencionado em seus escritos sobre a "Lebeta", da seguinte forma: "Se trata de uma espécie de sino cheio de ar, colocado em posição invertida, de forma cônica, em cujo interior uma vez submergida coloca-se a cabeça e a parte superior do corpo do mergulhador." A gravura reproduzida pode-se apreciar perfeitamente a concepção deste engenho; na parte superior esquerda, vê-se a armação de suporte da campana, no qual se apoiava os ombros do mergulhador com umas cordas, dando plena liberdade de movimento nos braços; na parte dianteira tinha umas aberturas de observação. O ar de seu interior se comprimia com a água, porque sempre estava sujeita à pressão ambiente, ainda que o maior problema dos sinos de então era que não podia ser renovado o ar, com a concentração interior do gás carbônico limitando, em muito, a autonomia no mergulho. Nos relatos sobre a conquista de Tiro pelas tropas de Alexandre Magno, constam que os gregos levavam mergulhadores a bordo de suas embarcações, os quais lograram destruir as defesas submarinas dos fenícios. outro historiador, Quinto Quercio (41' a 45 a.C.), diz também, sobre os mesmo fatos, que os fenícios cercados pelas tropas de Alexandre O grande, receberam ajuda de víveres e armas por meio de mergulhadores e que, graças a isto, conseguiram resistir ao ataque durante sete meses.
Os mergulhadores gregos se distinguiam por umas incisões que se fazia no nariz e nas orelhas; sobre estes cortes, apesar das várias conjecturas sobre o motivo, nunca se chegou a encontram uma razão que as justificasse. Resta pensar, apenas, que representavam uma espécie de distintivo entre os demais homens do mar, para aqueles mergulhadores que na Grécia se rendia um tributo de admiração.
Por mais estranho que se possa parecer o comentário anterior, não é menos estranho o costume que tinham os homens de introduzir na boca e nos ouvidos pedaços de esponjas embebidas em azeite, cuja utilidade tampouco se conhece a razão correta. Todavia, parece ser que utilizavam para melhor a visão submarina. A técnica era a seguinte: uma vez submergidos mordiam o pedaço de esponja, fazendo sair gotas de aceita, os quais faziam deslizar até os olhos; uma vez ali, permaneciam por certo tempo na órbita ocular, reduzindo os erros de refração da água. Este procedimento, que pode parecer absurdo e ineficaz, não é tanto, visto que, quem realizou a prova logrou resultados bastante satisfatórios. Todavia, o que não se pode averiguar é a razão dos pedaços de esponja nos ouvidos, pois todos sabemos que tapar o conduto auditivo externo durante o mergulho, é prejudicial, pois impede a normal adaptação da membrana timpânica às variações de pressões. Para esta interrogação só cabe uma resposta possível, uma vez que a suavidade da esponja se adapta à pressão exterior, liberando o azeite e, este , em contato com a membrana timpânica, faz a sua lubrificação, favorecendo sua elasticidade.
Por certo que Aristóteles se ocupou, em sua parte científica, com os problemas que se apresentavam aos mergulhadores durante a imersão, tal como sangrar pelo nariz, a ruptura do tímpano ou a surdez, acidentes muito freqüentes nos mergulhadores de apnéia, principalmente nos coletores de esponjas e coral. Em uma de suas obras faz alusão a algo que tem relação com um tubo respirador, pois disse assim: "Os mergulhadores da época estavam dotado para permanecer longo tempo debaixo da água, respirando através de um tubo que os faz parecerem com os elefantes."
Do Império Romano à Idade Média
A pesar de toda a atividade e tradição subaquática dos gregos, seria outro povo sem nenhuma tradição marinha que chegou a criar as primeiras unidades organizadas de mergulhadores de combate: "os urinatores". Estas unidades estavam formadas por jovens atletas que dominavam com perfeição a natação e o mergulho, e entre suas missões mais importantes destacavam-se: atacar as defesas dos portos inimigos; afundar os barcos fundeados e transferir seus estoques de armas, alimentos e mensagens às guarnições sitiadas. Estas unidades chegaram a alcançar um grau de operatividade tão alto que contra elas foram concebidos os engenhos mais diabólicos, desde a simples rede cheia de campainhas que denunciavam sua presença, até máquinas infernais providas de rodas com afiadas machadinhas que funcionavam na entrada dos portos e arsenais e que mutilavam horrivelmente os aguerridos mergulhadores. Se diz também que os guardiões daquelas instalações estavam providos com largos tridentes que espetavam os mergulhadores.
Os "urinatores" tiveram sua primeira atuação nas guerras de César contra Pompeo, no porto de Orique, no Mar Adriático; segundo narra Don Casius, no ano de 49 a.C., estando sitiadas as tropas de César pela esquadra de Pompeo, seus mergulhadores nadaram submergidos durante a noite até os barcos inimigos; enganchando potentes garfos e cortando as amarras, os rebocaram sigilosamente até a terra, onde foram atacados e vencidos pela guarnição sitiada. A partir deste momento, suas ações se sucederam uma atrás da outra, até chegada ao ano 200 de nossa era, quando constam as últimas informações de suas operações, as quais tiveram lugar durante o cerco de Bizancio pelo General Severo.
Com a queda do Império Romano se perde, em parte, a continuidade das atividades subaquáticas, a nível militar, por parte dos famosos "urinatores" e, ainda quando seguem existindo ao tempo medieval, sua atividade perde a condição guerreira, até que se dedicaram a atividades de recuperação de barcos afundados, trabalhos em portos e arsenais, correio entre ilhas, etc., atividades que deram lugar à aparição dos primeiros mergulhadores profissionais da história. A respeito dos correios entre ilhas, o jesuíta Atanasio Kircher (1601/1680) falou em seus escritos da existência de um certo personagem que se dedicava a passar mensagens de um lugar para outro no estreito de Mesina, um tal de Nicolao, que todo mundo conhecia como "O Peixe"; menciona façanhas incríveis, entre elas que percorria até quinze léguas marinhas (5555 m cada uma) e que nesses percursos abordava as naus para facilitar a seus tripulantes informações daquelas costas marítimas e, em troca, lhe davam comida e bebida. Diz-se, também, que se dedicava a recuperar barcos e objetos afundados e que, uma vez foi solicitado pelo Rei da Sicília para que recuperasse uma taça e ouro que havia caído no mar, em um lugar de bastante profundidade e fortes correntes, operação que terminou com êxito. Joviano Pontanus disse que ele havia abandonado de tal forma os costumes dos homens que chegou a perder sua aparência humana, pois seu rosto era escamoso e horrível. Consta que o poeta alemão Friedrich Schiller se inspirou na vida deste personagem para compor a sua balada O Mergulhador.
Na época medieval se perdeu todo interesse pelas coisas do mar, de onde as pessoas somente viam monstros horríveis em suas profundidades, e daquela antiga pujança marinha e subaquática somente os romano-bizantinos mantiveram alguma atividade, ainda que sem apontar nada de novo. Também nas regiões de grande desenvolvimento desta atividade, como a Grécia e a Sicília, havia alguns mergulhadores que se dedicavam à coleta de esponjas e corais. Como visto, os mergulhadores gregos sempre tiveram fama em todo o mundo.
Da Idade Média ao Século XIX
O Renascimento traz, entre outras coisas boas para a Humanidade, o despertar do interesse, durante todo o período medieval, pelas coisas do mar, com a principal aventura das grandes conquistas marítimas. Se repassaram os limites do tão temido "mar tenebroso" e os horizontes do homem europeu se ampliaram até limites impensados. Com este impulso dado pelos homens da ciência da época e o interesse por estes temas e pela conquista das profundidades marítimas, nasceu o "Ars urinatoria", como então foram chamados, de cuja tentação nem Leonardo da Vinci se liberou. Da Vinci, dentro outros inventos mais ou menos fantásticos, desenhou umas luvas palmeadas e uns pés de pato (nadadeiras), mas a sua mais original criação subaquática foi um capuz de couro que cobria a cabeça e o pescoço do mergulhador e colocou, na altura da boca, uma saída de um tubo respirador. Ademais, o capuz era coberto por agudos espinhos que, segundo Da Vinci, serviam para defender-se dos peixes. Curiosamente, a longitude do tubo não era superior a dos atuais; Leonardo, deve ter intuído ou, quiçá, comprovado, ainda que desconhecendo os princípio da hidrostática, que um tubo com tamanho maior não era utilizável, e não caiu nos exagerados desenhos de Vegecio.
Na mesma época é o historiador militar Renato Vegecio descreveu o equipamento dos "urinatores", e inclusive o ilustra com gravuras mais ou menos pitorescas. E já se sabia que estes mergulhadores levavam como único equipamento um machado, braceletes de chumbo onde se gravavam as mensagens e um tubo respirador, que, segundo alguns acreditam, não deviam ter muito a ver com a figura dos livro de Vegecio e que este assim descrevia : "Portavam capuzes de couro com um tubo na parte superior, que aflorava à superfície, e saco cheio de ar para sustentar seu extremo em flutuação, construídos com a pele do estômago dos cordeiros".
Seu quase contemporâneo Diego Ufano introduziu algumas modificações nos desenhos de Vegecio, tais como colocar pesos nos pés do mergulhador e abrir orifícios no capuz na altura dos olhos, acoplando umas lentes de haste muito delgados, fixados com arandelas. Não cabe dúvida de que isto demonstrava o interesse daqueles povos em melhorar o equipamento dos mergulhadores. Todavia a vista do desenho de Vegecio se vê facilmente que um tubo respirador daquela longitude não era utilizável.
Alguns outros engenhos também surgiram, como demonstra o desenho de Pedro Ledesma, a respeito de um equipamento concebido no ano de 1623.
Fora os tímidos projetos de Leonardo, Vegecio e Diego Ufano, não se tem notícias de que outros desenhos ou invenções. O sino de mergulho ("lebeta") ainda era utilizado, com as limitações conhecidas, pois ainda não se havia obtido a renovação do ar em seu interior, nem conhecidas as causa de sua escassez, da qual os sábios da época diziam "se resolvia em maus e fortes humores." Todavia, conscientes do mal que atacava implacavelmente os mergulhadores dos sinos, trataram de resolver o problema suprindo ar desde a superfície através de um tubo, operação irrealizável sem poder dispor de um compressor de ar, por cuja razão o projeto teve que ser desenhado, pois escapava mais ar do que penetrava no interior. Esta situação se manteve até o ano de 1648, quando o famoso físico francês Blas Pascal deu lugar ao seu conhecido teorema, que seria o princípio fundamental da hidrostática. Descobrindo que unindo o realizado na mesma época pelo físico italiano Evangelista Torricelli, com o que se pode medir a pressão atmosférica, se aclaram grande parte dos muitos problemas que até então atormentavam os cientistas.
Com alguns conceitos científicos mais claros, mas ainda limitados quanto aos meios materiais - pois não podemos duvidar que na época não eram disponíveis para a construção de seus inventos outros materiais, que não o ferro, a madeira e o couro - físicos franceses, alemães e italianos trabalharam em excesso para desenhar aparatos mais ou menos fantásticos, alguns distanciados da clássica campana e, dentre outros, cabe destacar por sua originalidade para a época o do físico italiano Giovanni Alfonso Borelli, no ano de 1652. O invento consistia em um suposto equipamento de mergulho. Como vemos na ilustração, o depósito de ar, em que o mergulhador enfiava a cabeça, constituía-se de um saco de couro de grande tamanho, que em sua parte dianteira levava acoplada uma vigia (abertura) para facilitar a visão. O ar que se aspirava pelo nariz era expulso pela boca através de um tubo no qual, a um oitenta centímetros de distância, havia um pequeno saco, por onde, segundo o autor, eram retidos os vapores quentes; o corpo do mergulhador era protegido por um traje de couro, curiosamente, o equipou com um par de nadadeiras que lembravam as garras de um felino ligeiramente espalmadas. O mais curioso neste equipamento era o cilindro que, a pretexto de estabilizador hidrostático, levava preso na cintura; ao que parece, o ar comprimido manualmente no cilindro deixava espaço livre em seu interior na água, o qual aumentava seu peso; em sentido contrário, ao dilatar-se o ar expulsava a água e o cilindro flutuava. Pelo menos na teoria - assim assegurava seu inventor - , já que este aparato, ao que parece, não passou de simples projeto, pois nem sequer foi provada sua eficiência, um tanto duvidosa apenas com a vista do desenho.
Inobstante todos estes projetos, o sino de mergulho continuava sendo utilizado, pois não havia sido obtido nada que o substituísse, pelo que, durante vários anos, os cientistas se limitaram a aperfeiçoar a campana. Em 1665, o escocês Jean Barrí desenhou uma campana na qual introduziu um tamborete para o descanso em seu interior; na mesma época, o veneziano Boniauto Lorini incorporou pela primeira vez uma janela que permitia observar o exterior, que declarou "útil para a recuperação de canhões afundados ou de qualquer outro objeto que tivera sido afundado e para a pesca de coral. Com efeito, o que daria uma nova concepção à campana (sino de mergulho) seria o astrônomo e cientista inglês Edward Halley (1656/1742), o qual, talvez um tanto cansado de tanto olhar o céu, dirigiu sua atenção para uma nova dimensão, que se apresentava como incipiente conquista dos fundos marinhos pelo homem. Baseando-se em modelos conhecidos, todos de reduzidas dimensões, desenhou uma campana (sino) de grandes dimensões, com capacidade para quatro pessoas, adicionando um banco circular, no qual se podia permanecer sentado em seu interior. Porém o mais engenhoso era a forma pelo qual se fornecia o ar, que chegava ao lado em barris e se transportava para o interior do sino por meio de tubos, dotando de uma grande autonomia. Sem dúvida, não terminou aqui a capacidade inventiva de Halley, pois quis facilitar aos mergulhadores uma autonomia independente do sino, adotando um mini---sino de uso pessoal, recebendo ar deste a campana principal (matriz).
A prova de água da campana de Halley teve lugar no ano de 1690; alguns autores creditam a paternidade deste invento ao físico francês Denis Papin.
O irlandês Sparling introduziu a novidade de que os tripulantes poderiam movimentar o sino à vontade, mas, o que realmente aperfeiçoou o sino com fundamentos modernos foi o engenheiro inglês John Smeaton (1724/1792), que idealizou renovar o ar em seu interior por meio de uma bomba pneumática. A incorporação deste método para o suprimento de ar deu lugar à criação de novos desenho de equipamentos de mergulho, que já se assemelhavam ao clássico escafandro de mergulho.
O primeiro passo conhecido se deve ao inglês John Lethebridge, que inventou em 1716 um aparato consistente numa espécie de tonel construído de madeira reforçada com aros de ferro, no qual se introduzia o mergulhador um mais abaixo da cintura; para os braços dispunha de orifícios revestidos de couro; o ar era fornecido através de uns tubos na altura da boca, enquanto o ar expirado saía pela parte inferior do tonel. Na realidade, era uma adaptação da clássica campana para o uso individual.
Neste época o conhecimento das técnicas da imersão tinha sido melhorado sensivelmente. Isto, unindo o que já se conhecia de certos adiantos mecânicos, proporcionou que cientistas da época criassem novos modelos. Os franceses Freinemem (1772) e Forfait (1783) deram mais um passo em direção à criação do equipamento individual de mergulho. Quatorze anos mais tarde, o alemão Klingert, reconhecendo todas as experiências anteriores, construiu um novo equipamento, de concepção mais avançada. Constava de quatro partes principais: o casco, que era unido à parte central, construído de couro e protegida por arandelas de ferro, de onde saiam os braços, de forma similar ao modelo de Letherbridge; a parte inferior, que era segura por arandelas de ferro ao corpo central, levava uns calçados de couro até a panturrilha. Todo o conjunto do equipamento se comunicava com um depósito de ar de forma cilíndrica em sua parte central, que poderia servir de estabilizador, já que podia ser acionado por meio de um mecanismo que permitia ao mergulhador ascender ou descender à vontade. Para manter o equilíbrio hidrostático, era dotado de uns pesos de chumbo colocados junto aos tubos e na cintura, e , pela primeira vez, calçava-se sapatos de chumbo.
Do Século XIX aos nossos dias.
A partir do ano de 1800 os novos modelos de aparato de mergulho se sucederam; franceses, ingleses e também alemães se dedicam em obter um equipamento de mergulho autônomo que libere definitivamente o homem da campana e que abra de forma definitiva as portas do mundo submarino.
O primeiro passo foi dado em 1819, como engenheiro alemão August Siebe, que dezenove anos mais tarde seria o inventor do primeiro equipamento clássico de mergulho. O seu primeiro invento consistia em um casco metálico de forma semi-esférica a que denominou de "escafandro"; dispunha de uma vigia dianteira e sua parte inferior se apoiava sobre os ombros do mergulhador; o ar era bombeado da superfície e recebido através de uma válvula antiretrocesso inventada por ele, enquanto o ar expelido era liberado de forma natural, pela parte inferior, Com isso se dotava o mergulhador de um aceitável equilíbrio de pressão e uma respiração bastante cômoda. Este equipamento tinha o inconveniente de que, devido pela parte inferior do caso saía o ar livremente, obrigava o mergulhador a manter-se em posição erguida, já que com qualquer inclinação do casco se produziam perdas de ar, com a correspondente entrada de água em seu interior, limitando a liberdade de movimentos. Apesar de tudo, aparatos similares, ainda que de conceitos mais modernos, vinham sendo utilizados até relativamente pouco tempo.
Poucos anos depois de aparecer o "escafandro" de Siebe, o engenheiro inglês William Henry James inventou o primeiro equipamento de mergulho de circuito fechado. A concepção era muito parecida com os atuais aparelhos deste tipo, posto que o gás respirado era oxigênio, no circuito respiratório fechado, e a depuração se efetuava através de um cartucho de potássio cáustico. Todo o circuito respiratório se fazia no interior de um saco pulmonar de borracha, em cujo interior ia acoplado o cartucho filtrante, enquanto que o gás era abastecido em uma pequena garrafa de aço acionada manualmente a vontade, por meio de uma chave.
Chegamos ao ano de 1837, em que August Siebe, como resultado de sua experiência anterior, criou o primeiro traje de mergulho completo e batizado com o nome de "diving-suit" (traje de mergulho). O novo equipamento era composto de traje completo e casco unidos; o traje era confeccionado com lona recauchutada de grande resistência e o casco era de cobra, com três vigias circulares (uma dianteira e duas laterais), que dotavam o mergulhador de um amplo campo de visão, enquanto que o ar penetrava pela parte superior de uma forma similar a de seu modelo anterior, a evacuação do ar expirado se realizava através de uma válvula situado em um lado do caso. O ajuste do casco como traje, que era uma só peça, se realizava por meio de uma arandela colocada na parte superior do traje, na altura do peço do mergulhador, que se ajustava à base do caso por um sistema de meia volta a pressão.
O escafandro de Siebe resultou em êxito e foi adotado pelas marinhas militares de muitos países, assim como pelos profissionais da época.
Entre tantos dados históricos, merece fazer menção dos acontecimentos que, mesmo não guardando relação direta com o invento de novos equipamentos de mergulhos, entram diretamente na história da navegação submarina. Se trata dos inventos dos espanhóis Narciso Monturiol e Issac Peral e Caballero. O primeiro inventou um submarino que batizou como Ictíneo ("O Barco Peixe); foi criado em 1859 e posteriormente melhorado em 1864, e suas provas de mar deram excelentes resultados, mas, devido à cegueira das autoridades da época, acabou por ser vendido em leilão público. Não ocorreu melhor sorte ao submarino de Issac Peral que, ainda que melhorando notavelmente o modelo de seu compatriota Montouriol, incorporando pela primeira vez na história o sistema de propulsão elétrica durante a imersão, com uma maior capacidade de tonelagem e um desenho mais avançado, restou relegado ao mais indiferente de todos os ouvidos.
No decorrer da história, também surgiram algumas invenções curiosas, como o escafandro rígido articulado criados pelos irmãos franceses Carmagnole, em 1882, na primeira tentativa de levar o homem ao fundo do mar a seco. Este modelo, além de não ser estanque o suficiente, tinha um peso elevado, impedindo a locomoção do mergulhador no fundo do mar.
Entretanto, as tentativas de dotar o homem com uma maior autonomia debaixo da água se sucediam e se alcançavam cada vez mais maiores profundidades, e, foi quando começaram a surgir os problemas provocados pelas variações de pressão a que, cada vez em maior medida, se viam submetidos os mergulhadores. O temido "golpe de ventilação" e a "subida em balão" eram os pesadelos dos mergulhadores de então e, com o fim de encontrar uma solução a estes problemas, as investigações se orientaram para uma aparelho que facilitaria a regulagem automática do suprimento de ar e que ao mesmo tempo pudesse liberar o mergulhador do cordão umbilical da superfície. Aqueles cientistas que tinham consciência dos problemas que atormentavam o mergulhador, continuavam sem levar em conta que o homem se movia na água em um meio 800 vezes mais denso que o ar e insistiam em fazer o mergulhado caminhar erguido, ereto, arrastando sapatos de chumbo.
Por fim, o tão esperado acontecimento se produziu por obra de um oficial da marinha francesa e um engenheiro: Auguste Denayrouse e Benoit Rouquayrol, ambos em colaboração, conceberam um aparelho que deram o nome de "aerófago" (portador de ar) e que pela primeira vez regulava automaticamente o suprimento de ar e libera o mergulhador da dependência da superfície. O aparato era simples: o depósito de ar consistia em um pequeno recipiente de forma cilíndrica e esférica, fabricado em placas de aço, com uma capacidade de 8 dm3 de ar a uma pressão de 30 kg/cm2 (3 atm), o qual levava em sua partes um peça de forma similar a uma caçarola que se comunicava com este através de uma válvula cônica; a parte superior desta peça fazia as vezes de um regulador de pressão através de uma membrana que entrava em contato com a água e que, segundo a pressão que recebia, atuava sobre a válvula de forma que o suprimento de ar era regulado à pressão ambiente. Deste peça que funcionava como regulador saia um tubo em cujo extremo tinha um encaixe, pelo qual recebia o ar e que tinham incorporado uma válvula tipo "bico de pato" para evitar a entrada de água, Sem dúvida, este invento foi transcendental para a época e por suas conseqüências posteriores, posto que, por fim, se havia obtido o princípio da membrana equilibradora, que representou o primeiro passo para o regulador automático de pressões.
Este aparelho foi pouco utilizado, já que sua autonomia era muito limitada e que, por não dispor de um sistema de visão adequado, o mergulhador, uma vez submergido, ficava praticamente cego. Teriam que ser percorridos mais alguns anos para que outro inventor francês, marinheiro de profissão e apelidado Le Prieur, desenhasse em 1925 outro novo aparato, baseado no de Denayrouse y Rouquayrol, que melhorava sensivelmente este modelo. Este aparelho era dotado, pela primeira vez, de uma garrafa de aço carregada a 150 atm, mas sua capacidade era muito limitada pois não passava de 6,5 litros . O regulador era acoplado sobre a garrafa e tinha duas câmaras: uma de pressão ambiente pela qual penetrava a água e outra de baixa pressão; entre ambas as câmaras tinha ajustada uma membrana que fazia o papel de equilibrador de pressão, da qual saia o tubo de suprimento de ar. O aparelho tinha uma manômetro de facilitava ao mergulhador um suprimento de ar adicional, quando o regulador não enviava o suficiente. Ademais, pela primeira vez se utilizou um sistema de visão submarina por meio de uma grande máscara facial, por cuja borda inferior se expulsava o ar expirado.
Porém, este aparelho não chegou a satisfazer todas as esperanças que se haviam depositado, pois o fato de não dispor de um controle do consumo de ar, presumia um desperdício que limitava de grande maneira sua autonomia, que ficava reduzida a uns quinze minutos, a profundidades não superiores aos 12 ou 15 metros, apesar de que nas provas de profundidades maiores, realizadas com este aparelho, se chegaram a atingir satisfatoriamente os 50 metros de profundidade.
Indubitavelmente havia se dado um importante passo, com a liberação do mergulhador do cordão umbilical da superfície e com isso a opressão psíquica dos escafandros clássicos até então utilizados, ademais, possibilitaram o conhecimento de uns elementos de segurança que anos mais tarde se confirmariam como definitivos. Somente ficava por atingir um pequeno, mas importante detalhe: liberar ao mergulhador em seu deslocamentos embaixo d'água, da posição erguida e dos pesados sapatos d chumbo. Oito anos depois do invento de Le Prieur, um outro compatriota, marinheiro de profissão, apresentou ao alto comando da marinha militar francesa, um par de nadadeiras de borracha e, mesmo que aquela demonstração não tenha causado nenhuma sensação, no transcorrer dos anos, foi reconhecido o valor do invento de Luis de Corlieu.
É de se notar que os modelos de "escafandros" da década de trinta, como o da ilustração , são muito semelhantes aos atuais. No ano de 1930, o engenheiro inglês Joseph Peress concebeu um outro tipo de escafandro, a Tritônia, moldada em liga de magnésio e destinado aos mergulhadores de pesquisa de petróleo, para mergulho a seco e minimizando os efeitos da pressão, tendo o próprio inventor descido a 135 metros de profundidade.
Hoje, as roupas de mergulho profissional ainda são diretamente baseadas na invenção de Peress, possibilitando um mergulho aos 600 metros de profundidade, conforme se compara na foto .
Em 1937, na costa francesa do Mediterrâneo, se testou um dos primeiros cilindros de ar comprimido, em que o mergulhador regulava manualmente o fornecimento do ar, abrindo e fechando uma torneira.
Em 1943, outro francês chamado George Commheines realizou a primeira prova de um equipamento de sua invenção que melhorava sensivelmente o aparato de Le Prieur. Foi testado nas águas de Marselha e obteve êxito ao alcançar os 35 metros de profundidade. Inobstante e paralelamente aos trabalhos de Commheines, no mesmo ano de 1943, foi constatado um feito histórico na evolução do mergulho: outra equipe, curiosamente composta por outro marinheiro e um engenheiro (recordemos a coincidência com Denayrouse y Rouquayrol), deu os últimos toques e se dispôs a submeter a prova do aparato que seria aquele com que tantas gerações de subaquáticos haviam sonhado. A equipe para esta operação era composta do engenheiro Emile Gagnam, o marinheiro Jacques Ives Cousteau e um jovem desportista que provaria o aparato: Fréderic Dumas. O acontecimento teve lugar numa formosa manhã do mês de julho, na Costa Azul. De uma forma discreta, aparentemente sem importância, como todas as coisas transcendentes, Dumas conseguiu alcançar os 63 metros de profundidade. A prova havia sido um êxito.
O aparato Cousteau-Gagnam, conhecido com "Aqualung", estava baseado em seus predecessores de Denayrouse e Rouquayrol e Le Prieur, pois Cousteau e Gagnam tinham adaptado o sistema da membrana equilibradora de pressão, melhorando sensivelmente seu conceito, pois que todo processo e regulação de pressões se realizava em um corpo único de regulador composto de três câmaras: de alta pressão, de baixa pressão e de pressão ambiente. Apresentava, ainda, uma grande novidade, cujo circuito respiratório se desenvolvia praticamente todo através do regulador. O regulador tinha incorporado dois tubos traqueais: um de admissão de ar e outro de expulsão que ia desde a boquilha até a câmara de pressão ambiente, de onde sai o ar para o exterior. Sistema que facilitava um meio de respiração bastante cômodo até profundidades muito aceitáveis, até então vedadas ao homem. Outra das vantagens do novo aparelho era a autonomia que davam as três garrafas de aço de 5 L cada uma, carregadas a 150 atm.
Também os alemães trabalhavam em um equipamento de circuito fechado, dedicado ao salvamento das tripulações dos submarinos. O aparato, conhecido como "Aparato Davis" era de circuito cerrado e carregado com oxigênio, por isso que sua utilização era muito mais limitada que a do "Aqualung", mesmo assim, era de larga utilização na Segunda Guerra Mundial, pelos mergulhadores de combate.
Compare na foto, datada de 1943, um grupo de mergulhadores da marinha inglesa durante a Segunda Grande Guerra: à esquerda um equipamento autônomo para imersões até 20 metros; no centro um escafandro típico, com descidas até 90 metros e o chamado "homem-rã" - mergulhador de combate e com natação próxima à superfície.
A partir de então, e principalmente após o término da 2ª Grande Guerra, a atividade subaquática contou em todo o mundo com um número cada vez maior de adeptos. Sobretudo na juventude após a guerra, os relatos das façanhas dos nadadores de combate(os "homens gamma" dos italianos; os "homens K" dos alemães; e dos "homens rã" dos ingleses), tiveram importância decisiva para a disseminação das atividades subaquáticas.
O invento do escafandro autônomo facilitou de grande maneira a penetração do homem no mundo subaquático, porém este aparato também teve - e continua tendo - suas limitações, pois todos sabemos que, com ar comprimido, a profundidades superiores de 60 metros a exposição ao perigo é uma constante. Este foi o motivo porque seus autores se limitavam a explorar sua patente e nada mais, porém, este começo foi um incentivo para que a partir de então o homem se dedicasse na investigação submarina e em alcançar cada vez mais profundidades maiores. Cousteau, junto com Dumas e Philippe Tellez, criaram o Groupe de Recherches Sous-marines, que posteriormente se denominaria Grouped'Etudes de Recherches Sous-marines (GERS), e a bordo de um caça-minas da 2ª Guerra, de 360 toneladas e 42 metros de cumprimento, convertido em barco oceanográfico (batizado como Calipso), percorreram todos os mares do globo, apontando inúmeros descobrimentos científicos e recuperando grande quantidade de sítios arqueológicos.
A grande aventura dos descobrimentos submarinos havia começado; depois, tudo seria uma sucessão de fatos e descobrimentos. Homens da ciência se interessaram pelas grandes profundidades; o primeiro deles foi o professor Auguste Piccard, cientista suíço que, igual a Halley, quica cansado de elevar-se às alturas, preferiu a conquista das profundidades. No ano de 1948, junto com o físico belga Max-Cossyns, construiu a primeira nave de investigação abissal, a que denominaram de Batiscafo (ou nave das profundidades) e cujas siglas eram FRNS-2, que correspondiam à fundação belga patrocinadora. Sua primeira imersão se realizou em água das ilhas Cabo Verde, chegando aos 1800 metros e ainda que a profundidade alcançada fosse importante para aquela época, a nave acusou certas deficiências de construções corrigidas no modelo seguinte, graça a colaboração do comandante Cousteau e de Tilliez. A nova nave, denominada FNRS-3, desceu em 1953, em água de Marselha, a uma profundidade de 1550 metros, cota que seria ultrapassada dias depois, alcançado os 2.100 m. A mesma nave chegaria aos 4.050 metros três anos depois, em águas de Dakar.
Mas não terminaram aí as tentativas do inquieto professor Piccard, pois imediatamente se colocou a trabalhar no projeto de uma nova nave submersível cujas primeiras provas realizou em agosto de 1953, com resultados plenamente satisfatórios; no mês seguinte, tripulado por seu filho Jacques, alcançaria os 1800 metros e três dias depois, pai e filho desceram aos 3150 metros; a imersão se realizou em águas do Adriático, em um ponto situado a 80 km da ilha de Ponza.
Enquanto isso, a equipe de Cousteau trabalhava no projeto de um submergível, mesmo que menos ambiciosa da realizada pelo Prof. Piccard, não por isso era menos útil; naquele momento somente estavam interessado na exploração da plataforma continental. Em seu projeto também participaria um velho colaborador de Cousteau, o engenheiro Emile Gagnan, enquanto a construção seria dirigida pelo engenheiro francês do CFRS, Jean Mollard. A primeira aprova desta pequena e, como depois se mostraria, utilíssima nave submergível, se realizou em 1957 nas águas do Mediterrâneo, mas, por causa de uma falha em um dos cabos de amarração, ao ser colocada na água se soltou, caindo ao fundo de 1.000 metros, e, ainda que não tenha sido projetada pela tal profundidade, com grande surpresa para seus construtores, ao ser recuperada, se pode observa que apenas havia sofrido danos em sua estrutura principal; isso serviu para que continuassem com o projeto e construção de uma segunda nave submarina, que seria denominada de La soucoupe plongeante (disco mergulhador) D S-2, tendo sido batizada com o nome de Denise; dispunha de uma autonomia de 24 horas e lotação era de dois homens. Sua primeira prova se realizou em águas da plataforma continental de Porto Rico, em 1959, sendo tripulada por Albert Falcó e Jean Mollard, operação que resultou em pleno êxito. Meses depois, na baia de Ajaccio (ilha da Córsega), também tripulada por Falcó e Cousteau, alcançariam os 300 metros de profundidade máxima para que havia sido construída. Posteriormente, este aparelho seria utilizado numa infinidade de ocasiões durante as jornadas do Calipso.
Na medida em que os cientistas continuavam a trabalhar e construir submergíveis capazes de alcançar maiores profundidades, o interesse pelos recordes de profundidade, seja em apnéia (pulmão livre), seja por escafandro autônomo, começa a ter mais adeptos. No que diz respeito ao mergulho livre (apnéia) e sem que se tenha a remontar aos antigos pescadores de esponjas e corais, se dispõe de dados mais recentes, ainda que um pouco contraditórios. Das imersões dos mergulhadores gregos, alguns autores mencionam apenas um deles (Scotti Geris) a 60,95 metros em 1913, outros escritores referem apenas ao seu compatriota Starki Hasikel em 1918, que descendo para liberar uma âncora engatada aos 80 metros de profundidade, para cuja tarefa se serviu de uma simples pedra como contrapeso. Ambas façanhas, se considerarmos a forma em que foram realizadas, são dignas de menção, mas, sem dúvida, é a última a que se pode qualificar de marca não superada, pois enquanto atualmente já tenha ultrapassado os 100 metros em apnéia, devemos considerar que aquele mergulhador carecia dos meios e conhecimentos disponíveis aos mergulhadores de hoje, os quais, ainda que possuindo os meios e conhecimentos atuais, demoraram mais de vinte anos para poder superar a marca de Hasikel.
Foi a partir do ano de 1949, quando começaram as primeiras tentativas de recordes em apnéia; a primeira tentativa foi creditada ao italiano Raimondo Bucher, que alcançou os 30 metros, batendo aos 39 metros três anos mais tarde; o também italiano Alberto Novelli, em 1953, obteve a marca dos 41 metros, que outro italiano, Anerio Santarelli, superaria em 1960, atingindo os 60 metros.
Também os mergulhadores autônomos desejavam conhecer o limite de suas possibilidades e a equipe de Cousteau inicia, em 1946, uma série de provas, sendo que, em uma delas, na profundidade de 120 metros, pereceria um dos membros de sua equipe, o contramestre M. Farques. Dois anos mais tarde, Fréderic Dumas desceu aos 93 metros, deixando esta cota como limite para o mergulho autônomo; todavia, seria um espanhol, o catalão Eduardo Admetlla, que no ano de 1957, equipado com um equipamento autônomo "Nemrod" e com carga de ar comprimido, alcançaria as águas de Cartagena aos 100 metros de profundidade, recorde jamais superado com esta classe de equipamentos. Ainda que dois anos mais tarde a equipe formada pelos italianos Falcó, Novelli e Olgiani obtivessem a marca de 130 metros, o fizeram em condições técnicas superiores ao espanhol Admetlla, já que para esta prova utilizaram um regulador desenhado por Novelli, de características muito melhores que o do tipo standard utilizado por Admetlla.
Os êxitos de Piccard e Cousteau serviram de incentivo para que os técnicos e cientistas de outros países também se interessassem pela conquista das profundidades. Os norte-americanos, sempre abertos a qualquer novidade, captaram o professor Piccard e, em colaboração com a U.S. Navy, este começou uma série de experiências com o batiscafo Triestre, que em 1960, tripulado pelo filho do professor e um tenente da marinha americana, submergiram na Fossa das Marianas, alcançando a impressionante profundidade de 10.916 metros.
Apesar de todo o avanço científico, sobretudo se este se desenvolve em um ambiente que não é habitual ao homem, algumas conseqüências decorrentes da adaptação ao meio foram constatadas, problemas que não eram novos, já que começaram a aparecer nos primeiros tempos do mergulho com ar comprimido; o considerável aumento da autonomia dos equipamentos e o desejo de ampliar cada vez, fizeram que alguns cientistas dedicassem seus estudos à busca de soluções para estes problemas. Entre eles, cabe destacar o então jovem professor suíço Hans Keller, que, junto com o Dr. Albert Bühlmann, utilizando uma mistura de gases que haviam concebido, desceram varias vezes, durante os anos de 1959 e 1960, a profundidades de 120 metros em diversos lagos suíços, inclusive atingindo em uma ocasião os 155 metros, com a utilização de equipamento de mergulho autônomo. Com misturas similares, Keller submeteu-se em uma câmara hiperbárica da marinha francesa em Tulon, a uma pressão equivalente a 25 atmosferas (250 metros). Os problemas do nitrogênio, principal inimigo do mergulhador, começaram a serem investigados com técnicas mais avançadas, tais como reduzir a concentração de oxigênio em benefício do nitrogênio ou substituir o nitrogênio por hélio ou por hidrogênio. Todavia, apesar de todas as imersões com equipamento autônomo, inclusive com alguma dessas misturas gasosas, não superaram os 70 metros naqueles tempos, ainda que considerada a marca de 130 metros atingida, em 1945, pelo mergulhador sueco Zatterström, utilizando uma mistura de oxigênio, nitrogênio e hidrogênio, uma vez que, lamentavelmente, perdeu a vida nesta tentativa.
O Prof. Keller continuou suas experiências e, em 1962, submergiu nas águas da Califórnia a 300 metros, tripulando uma cápsula submergível, da qual efetuou uma saída e procedeu algumas evoluções em seu redor, durante vários minutos, utilizando uma mistura de gases de sua invenção, baseadas em suas experiências anteriores.
No mesmo ano de 1962, a equipe de Cousteau põe em marcha a operação "Precontinente I", dedicada a estudar o comportamento do homem alojado em uma casa submarina situada a 10 metros de profundidade. Esta experiência, que resultou em êxito, foi protagonizada por Albert Falcó e Claude Wesley, os quais permaneciam submersos ininterruptamente durante uma semana, realizando freqüentes saída à cotas mais profundas. O resultado desta operação animaria Cousteau a por em prática, no ano seguinte, outra de maior alcance, a "Precontinente II", elegendo para esta experiência as águas do Mar Vermelho. A operação consistiu em criar uma pequena colônia submarina, composta de três habitações submarinas. A primeira unidade, fundeada a 10 metros, era o principal abrigo dos aquanautas; a segunda unidade, situado ao lado da primeira, era a garagem do "disco mergulhador", enquanto que a terceira, a 26 metros, era ocupada somente pelos homens e servia de base para as operações de maior profundidade. Esta pequena colônia, que foi habitada por um mês ininterruptamente, tornou pública a adaptabilidade do homem a estas circunstâncias.
Durante este tempo, cientistas da marinha americana trabalharam em um projeto semelhante, no ano de 1964, nas águas da Califórnia, conhecida como operação "Sealab I", na qual 4 pessoas permaneceram, com êxito, durante 11 dias a uma profundidade de 58 metros.
O êxito dessas operações animaria seus realizadores a buscar metas mais ambicionas e, enquanto uma parte de Cousteau prepara a operação "Precontinente III", os norte-americanos trabalharam paralelamente na "Sealab II"; curiosamente, ambas operações se realizariam de forma convergente em data similar, e seu desenvolvimento iria produzir um acontecimento histórico. No mês de setembro de 1965, data de ambas operações, enquanto os americanos se encontravam em sua habitação submarina nas águas de La Joya (Califórnia), a 62 metros de profundidade, os franceses se achavam a 100 metros nas águas do Mediterrâneo; a distância entre os "habitats" era de 11.000 km, mas, pelos progressos da ciência, puderam estabelecer entre ambos uma conversa telefônica, entre Philip Cousteau e Scott Carpenter. Depois deste experimento se chegou à conclusão de que o homem, devidamente treinado e com equipamento apropriado, providos com os meios que a ciência e tecnologia moderna conquistou, pode realizar debaixo d'água qualquer atividade que normalmente realiza em seu ambiente natural. Certo que ainda encontramos limites que consideram estar nos 300 metros, mas, também é certo que, por muitos progressos que a ciência possa conseguir, existe um fato que coloca uma barreira intransponível: o de que, para sobreviver, o homem necessita respirar na atmosfera, o que significa que, qualquer que seja a mistura gasosa, por fluída possa ser, não bastaria para que nossos pulmões possam ventilar-se a profundidade maiores aos 500 metros (60 atmosferas).
Entretanto, Cousteau não havia abandonado o desenho e construção de novos submergíveis e lançou três novas versões, cuja referência numérica corresponde aos metros que podiam alcançar: o SP-350, o SP-1200 e o SP-3000. Depois das experiências da chamadas operações "Precontinent" e ante os problemas que constataram com os chamados cabos de segurança que uniam as habitações submarinas com a superfície e através dos quais se recebia a energia necessário, projetou e começou a construir um submarino de imersão profunda, totalmente autônoma, capaz de uma autonomia de 400 milhas e uma profundidade de 600 metros. O submarino estava projetado para poder pousar em qualquer lugar do fundo e servir de base para saídas dos mergulhadores, mas, lamentavelmente, este projeto tão ambicioso e tão interessante não passou de sua etapa inicial de construção, por falta de suporte financeiro. O curioso é que, apesar de tanto progresso científico e tecnológico, o homem continua desafiando o mar e a profundidade por seu próprios meios naturais, e os mergulhadores em apnéia seguem obtendo marcas e recordes. A marca de Santarelli foi superada por Enzo Maiorca que alcançou os 53 metros no ano de 1964, depois de outras marcas anterior, e que por um breve período superara o polinésio Tetake Williams, com 59 metros; esta marca por outro grande nome da apnéia, o francês Jacques Mayol, nascido em Shangai, que alcançou a marca de 60,358 metros em 1965. A partir deste momento e somente com um breve parêntesis dos três recordes obtidos pelo americano Robert Crof que, depois dos 64,616 metros, chegaria aos 73,150 metros, a briga maior era restrita entre Mayol e Maiorca; Mayol seria o primeiro a alcançar os 100 metros, proeza que obteve em 1977, se bem que Maiorca chegaria muito perto dessa marca; Mayol conseguiu atingir os 110 metros anos mais tarde.
Isto demonstra que, apesar de todo o desenvolvimento técnico e científico, o homem, utilizando suas próprias faculdades físicas, continuará conservando suas melhores qualidades físicas e naturais e colocará à prova, uma ou outra vez, em busca da superação de seus limites.
Este relato da evolução do mergulho através do tempo, demonstra o esforço do homem realizado através dos séculos, para conquistar os fundos marinhos, esforços que, como todos os avanços científicos, durante os últimos trinta anos, adquiriu um ritmo vertiginoso; com o avanço e sucessão de tantos adiantos tecnológicos e científicos, para que não haverá barreiras que posam limitar o gênio criador do homem. Ainda assim, as fronteiras que no momento nos impõe o meio marinho, parece que até certo ponto são insuperáveis e provavelmente será muito difícil ultrapassa-las, pois pensar em recorrer à cirurgia para transformar um homem em um semi-peixe, nos parece um tanto monstruoso. Todavia, se compararmos os êxitos atuais e os meios que um futuro próximo poderá oferecer, cabe pensar que a aventura submarina está apenas começando, pois as perspectivas que se abrem diante de nossos olhos, atônitos diante de tanto progresso, são inimagináveis. E, talvez, todas as fantasias que temos visto em tantas publicações de ficção científica sobre cidades submersas, grandes fazendas submarinas, etc. , nos façam pensar que, dadas as possibilidades da ciência do futuro, em espaço de tempo não muito longe, possam ser realidades e com elas o sonho de tantas gerações. Seria, então, quando se poderia produzir o curioso fenômeno do retorno do homem às fontes de sua origem, o mar.
REPORTAGEM DE CAPA Perigo em alto-mar Mergulhadores da Bacia de Campos Ricardo Fasanello
O mergulhador Marcos Antônio Vieira, 42 anos, reparava um duto de petróleo. A escuridão à sua volta era rompida apenas parcialmente com o auxílio de um robô que iluminava um imenso cardume orbitando ao redor da estrutura metálica e transmitia imagens para a sala de controle do navio, mais de 200 metros acima. Marcos usava o capacete impermeável equipado com lanterna e sistema de comunicação. O macacão de neoprene, largo no corpo para permitir a circulação da água quente que vinha pelo tubo conectado à superfície, dificultava os movimentos. A resistência física era drasticamente reduzida pela pressão atmosférica mais de vinte vezes maior. De repente, o susto. Um peixe enorme, de estimados 200 quilos, abocanhou ferramenta, mão e braço de Marcos, até a altura do cotovelo. Felizmente, tudo não passou do susto. Marcos retirou o braço da boca do peixe, um inofensivo cherne que, em seguida, cuspiu a ferramenta. Ele concluiu o serviço e começou a longa viagem de retorno. Marcos é um dos oitenta mergulhadores de enormes profundidades que trabalham na manutenção de alguns dos 600 poços de petróleo, explorados por 41 plataformas, na Bacia de Campos. A empresa extrai óleo de poços a até 1 800 metros de profundidade. Nesses casos, a operação é toda automatizada. Mas um quarto dos poços fica a até 300 metros e, nestes, o trabalho dessa elite de mergulhadores é fundamental. No Brasil, há apenas duas companhias especializadas em mergulho de alta profundidade – estima-se que sejam apenas 25 em todo o mundo –, a Fugro Oceansat e a Acergy Brasil, ambas contratadas pela Petrobras para operações na Bacia de Campos.
Sustos como aquele de Marcos são comuns no trabalho, mas não são a maior preocupação dos mergulhadores. O tamanho do peixe, aliás, pouco significa em termos de perigo e dor. Outro mergulhador, o também surfista Renato Bellizzi, 39 anos, sofreu muito mais, vítima de um peixe infinitamente menor. Tão pequeno que ele só percebeu a presença do animal quando pisou nele. Era um peixe venenoso que estava escondido sob um duto. "O espinho perfurou o neoprene da bota e furou meu pé. Na hora, foi uma dor alucinante, e eu não sabia exatamente o que era." Bellizzi conseguiu voltar para a câmara e foi medicado. Peixes podem causar graves problemas, mas para os "astronautas" do mar, como eles são conhecidos, a principal preocupação é o equipamento. No mergulho raso, aquele mais comum, atingem-se profundidades de até 50 metros com o auxílio de um cilindro de ar comprimido, uma mistura de oxigênio e nitrogênio. Abaixo dessa profundidade, mudam as regras e os equipamentos. E os riscos aumentam consideravelmente. O trabalho de apenas uma dupla de mergulhadores desencadeia uma complexa operação que envolve dezenas de profissionais. Ainda no navio, os mergulhadores são pressurizados de acordo com a profundidade em que vão trabalhar, nas chamadas câmaras hiperbáricas. Ali, passam a respirar uma mistura dos gases oxigênio e hélio. A primeira mudança no comportamento dos mergulhadores está mais para a comédia do que para o drama. Logo que começa a pressurização, os mergulhadores passam a falar com aquela voz de pato de desenho animado, por causa da ação do gás hélio no organismo. Na hora do trabalho, uma dupla de mergulhadores sai da câmara hiperbárica por uma escotilha e entra na cápsula conhecida como sino, que é lançada ao mar através de um túnel no centro do navio. Quando o sino chega à profundidade demarcada, um dos mergulhadores sai pela escotilha na parte inferior da cápsula, enquanto o outro permanece lá dentro. Após um máximo de seis horas de mergulho, o sino é recolhido, e a dupla volta para a câmara hiperbárica no navio.
Para ficar horas trabalhando no fundo do mar, sob temperaturas que chegam a 6 graus, o traje é aquecido por água quente bombeada do navio por intermédio de um tubo – chamado de cordão umbilical. "Se há uma interrupção no fornecimento da água quente, começa o choque térmico, e o mergulhador tem alguns minutos para voltar ao sino antes de entrar em hipotermia (diminuição drástica da temperatura corporal)", frisa o mergulhador e surfista Robson Gitti, 42 anos, que já enfrentou o problema. A mangueira de água quente se desconectou do traje, mas ele rapidamente a reconectou. "É uma profissão dificílima, perigosa. Mas o que me fascina é a oportunidade de estar em um lugar onde pouquíssimas pessoas neste planeta vão chegar", diz Gitti. A experiência tem um preço. Os mergulhadores são obrigados a viver numa espécie de regime de prisão semi-aberto. A câmara hiperbárica é um cilindro metálico, com 2,5 metros de raio e 6 de comprimento. No interior ficam dois beliches, uma mesa de aço inoxidável e duas fileiras de poltronas, assento e encosto feitos num colchão emborrachado laranja com 10 centímetros de espessura. A câmara é revestida de uma tinta verde-água e repleta de válvulas e tubos. O aspecto é frio, com cheiro de hospital, o lugar é pequeno e quatro mergulhadores permanecem confinados ali durante 28 dias. Saem para mergulhar e voltam direto para a câmara. "É um Big Brother levado ao limite extremo", define Carlos Paschoal, superintendente de mergulho da Fugro Oceansat. A TV fica do lado de fora da câmara e tem apenas 14 polegadas, para poder ser vista através da escotilha de vidro. Não é permitida a entrada de equipamentos elétricos por risco de combustão provocada por fagulha. Apenas o telefone e o alto-falante da TV ficam dentro da câmara. Os mergulhadores precisam de auxílio externo para tudo: tomar água gelada, mudar o canal da TV, acionar a descarga do banheiro. Se houver um problema grave e o mergulhador tiver de sair da câmara, o supervisor autoriza o procedimento. Mas nada acontece de imediato. Se o mergulhador estiver pressurizado, por exemplo, para uma profundidade de 300 metros, ele vai precisar passar por um período de dez dias de descompressão.
Para evitar crises dentro da câmara, os parentes evitam relatar problemas mais sérios nas conversas com os mergulhadores. Em um caso, a descompressão foi antecipada, e, ao sair da câmara, o mergulhador recebeu a notícia: o filho havia morrido e já estava enterrado. Em outra situação, a má notícia chegou ainda dentro da câmara. O mergulhador ligou para a mulher e quem atendeu foi o amante. O marido pediu imediatamente para sair da câmara. "O cara ficou louco, parecia um siri na lata. É uma preocupação constante saber que você está preso e o 'Ricardão', solto", diz um colega do mergulhador. "O confinamento, a sensação de isolamento, afeta muito o aspecto emocional dos mergulhadores", avalia Ricardo Vivacqua, médico responsável pelo atendimento aos profissionais da Fugro Oceansat. O aspecto físico é outro ponto muito exigido. "Há mergulhadores que perdem 4 quilos em apenas um dia de mergulho", conta Cláudio Street, médico da equipe da Acergy Brasil. As duas empresas realizam exames semestrais de todos os mergulhadores do quadro. Em caso de acidentes graves, os médicos são levados ao navio e pressurizados para atender o paciente ferido. "O mergulho profundo é como a Fórmula 1 ou uma viagem espacial. São atividades extremamente perigosas, mas com os riscos muito controlados", frisa Cláudio. A boa notícia é que, nos últimos dez anos, não há registros de mortes ou acidentes graves com mergulhadores das companhias contratadas pela Petrobras. Mesmo no fundo do mar, os mergulhadores acompanham as novidades do mundo aqui na superfície. Durante a Copa do Mundo de 1994, Marcos Antônio estava a quase 300 metros de profundidade quando Branco marcou, de falta, o gol contra a Holanda que levou o time brasileiro à semifinal e ao título. A informação chegou até ele pela voz do supervisor, via rádio. Marcos comemorou com um sorriso e pouco mais. Em junho, ele vai repetir a experiência. Estará confinado entre a câmara hiperbárica e o fundo do mar quando o campeonato se realizar. Marcos, como todos aqui fora, torce para comemorar muitos gols brasileiros, mesmo que com voz de Pato Donald.
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A maior inspiração da minha vida é poder sentir as ondas de energia que o mar me transmite e sendo canalizada depois para o meu dia a dia, me dando autoconfiança, audacia e muito vontade de viver. Msn :lehandropinheiro@hotmail.com "Boiado por água, ele pode voar em qualquer direção — para cima, para baixo, de lado — por mero sacudir a sua mão. Sob água, homem torna-se um arcanjo". Jacques Costeau.
A maior inspiração da minha vida é poder sentir as ondas de energia que o mar me transmite e sendo canalizada depois para o meu dia a dia, me dando autoconfiança, audacia e muito vontade de viver. Msn :lehandropinheiro@hotmail.com "Boiado por água, ele pode voar em qualquer direção — para cima, para baixo, de lado — por mero sacudir a sua mão. Sob água, homem torna-se um arcanjo". Jacques Costeau.