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Brazil
Se existe Deus com toda certeza ele mora debaixo d'agua um mundo intocado pela mão do ser humano, onde tudo é muito calmo, onde sei que posso estar perto do criador.

Monday, August 21, 2006

História do Mergulho.

Cardosão meu criador, um grande amigo e um dos melhores mergulhadores..

História do Mergulho


Escavações na Ásia Menor e o Egito realizadas encontraram ornamentos de madrepérolas, com datas de 4500/1500 a.C.; também na Babilônia e Tebas se encontraram jóias com incrustações de pérolas procedentes de épocas similares, o que demonstra que o homem mergulhava para a extração e coleta e ostras perolíferas.

Outro dado muito significativo se refere à uma descoberta dentro das ruínas do palácio do rei persa Assurbanipal II, de um desenho em baixo relevo procedente do ano de 880 a.C., no qual se constata perfeitamente a figura de um guerreiro provido de um odre (saco feito com pele de carneiro), abaixo de seu peito, como se fosse um saco respirador, em posição de natação. Parece que representa o próprio rei cruzando um rio à frente de seu exército, como retrata a ilustração.
Na cidade de Tiro (Fenícia), onde o comércio da púrpura era muito próspero, se encontram abundantes restos deste molusco, cuja coleta só era possível com submersão ao mundo aquático.

Do reino de Creta ao império Ateniense

Onde se começa a ter uma informação mais completa da atividade de mergulho do Homem é em Creta, cuja época de máximo esplendor se remonta aos anos 3.000 a 1.400 a.C., anos em que foi a primeira potência marítima do Mundo. Nas escavações realizadas se encontraram abundantes restos arqueológicos que permitiram reconstruir parte do interessante passado do povo, destacando, para nós, as informações relativas à relação do homem com o fundo do mar: plantas marinhas, peixes, ouriços, etc. Também a mitologia da época nos dá um relato expressivo relacionado como mergulho: a famosa história de Teseu, o herói ateniense que segue à Creta para matar o terrível Minotauro do palácio de Cnosos, e a que desafiou o legendário Rei Minos a recuperar uma anel de ouro do fundo do mar, ação que Teseu terminou com êxito, se mostrando um grande mergulhador.

Mas se em Creta parece que se iniciou a atividade subaquática, é sem dúvida na Grécia o país onde esta atividade alcançou um maior auge; dali nos chegam narrações realmente interessantes a respeito desta atividade. A primeira delas se refere ao mito de Glauco, controvertido personagem que se apresenta como um simples pescador da Beócia e outros lhe relacionam com os tripulantes da lendária nau Argo, em busca do Manto de Ouro. Em qualquer caso, sua história é curiosa. Dizem que um dia, quando regressava de sua atividade de pesca, colocou os peixes sobre umas ervas que cresciam na orla do mar e que o contato com estas ervas, reviveram. Diante destes acontecimento extraordinário, Glauco não pode evitar a tentação de verificar o porque daquele fenômeno e, assim, colocou na boca um punhado daquelas ervas, observando que lhe causava enamores desejos de submergir e comprovando que podia permanecer debaixo da água quanto tempo desejasse. Dizem que a partir daquele momento, ganhou a confiança das divindades do mar, tendo o Rei Poseidon lhe elevado à condição de divindade. Suas largas permanência abaixo d'água lhe deram um aspecto entre homem e peixe, com seus cabelos e barbas tomando uma cor verde, similar as das algas marinhas.

Existem outros fatos em que a realidade se mistura com o mito, como no caso de Glauco, e que nos são bastante surpreendentes. Uma deles teria acontecido no ano 484 A.C., durante a batalha do cabo de Artemisa entre Gregos e Persas. Os protagonistas foram dois personagens, pois eram os excelentes mergulhadores da época: Escilias de Esción e sua filha Ciana: ambos submergiram protegidos pela escuridão da noite e debaixo de uma forte tormenta, conseguindo chegar sem serem avistados até onde estavam ancorados os barcos persas, cujas amarras cortaram, causando um verdadeiro desastre que valeu a vitória dos Gregos. A importância desta façanha que, para imortaliza-la, foram erigidas estátuas de ouro em Delfos. Contam que o imperador Nero, em suas viagens por terras da Grécia, no auge de seu império, viu ambas as estátuas e ficou encantado com a beleza de Ciana, tendo levado secretamente sua estátua para Roma e que a imagem hoje conhecida como Vênus de Esquilo não é nada mais nada menos que a bela mergulhadora Ciana.

Outro testemunho do conhecimento que os gregos tinham da natação e do mar em geral é o fato de que, durante a batalha de Salamina contra os persas, estes últimos, que em sua maior parte desconheciam a natação, quando caiam ao mar, durante a luta, logo se afogavam, enquanto os gregos, muito mais espertos, retornavam à batalha com mais ímpeto, condição que valeu a vitória grega. Esta aptidão dos gregos para a luta no mar justifica o fato de que na Grécia se rendia um grande culto à natação, até o extremo de que chamavam de analfabetos aqueles que desconheciam a natação.

Logo após, naquela época, se utilizava na Grécia, uma aparato para submergir e permanecer debaixo d'água, que denominavam de "Lebeta", que era a primitivo sino de mergulho. Aristóteles havia mencionado em seus escritos sobre a "Lebeta", da seguinte forma: "Se trata de uma espécie de sino cheio de ar, colocado em posição invertida, de forma cônica, em cujo interior uma vez submergida coloca-se a cabeça e a parte superior do corpo do mergulhador." A gravura reproduzida pode-se apreciar perfeitamente a concepção deste engenho; na parte superior esquerda, vê-se a armação de suporte da campana, no qual se apoiava os ombros do mergulhador com umas cordas, dando plena liberdade de movimento nos braços; na parte dianteira tinha umas aberturas de observação. O ar de seu interior se comprimia com a água, porque sempre estava sujeita à pressão ambiente, ainda que o maior problema dos sinos de então era que não podia ser renovado o ar, com a concentração interior do gás carbônico limitando, em muito, a autonomia no mergulho. Nos relatos sobre a conquista de Tiro pelas tropas de Alexandre Magno, constam que os gregos levavam mergulhadores a bordo de suas embarcações, os quais lograram destruir as defesas submarinas dos fenícios. outro historiador, Quinto Quercio (41' a 45 a.C.), diz também, sobre os mesmo fatos, que os fenícios cercados pelas tropas de Alexandre O grande, receberam ajuda de víveres e armas por meio de mergulhadores e que, graças a isto, conseguiram resistir ao ataque durante sete meses.

Os mergulhadores gregos se distinguiam por umas incisões que se fazia no nariz e nas orelhas; sobre estes cortes, apesar das várias conjecturas sobre o motivo, nunca se chegou a encontram uma razão que as justificasse. Resta pensar, apenas, que representavam uma espécie de distintivo entre os demais homens do mar, para aqueles mergulhadores que na Grécia se rendia um tributo de admiração.

Por mais estranho que se possa parecer o comentário anterior, não é menos estranho o costume que tinham os homens de introduzir na boca e nos ouvidos pedaços de esponjas embebidas em azeite, cuja utilidade tampouco se conhece a razão correta. Todavia, parece ser que utilizavam para melhor a visão submarina. A técnica era a seguinte: uma vez submergidos mordiam o pedaço de esponja, fazendo sair gotas de aceita, os quais faziam deslizar até os olhos; uma vez ali, permaneciam por certo tempo na órbita ocular, reduzindo os erros de refração da água. Este procedimento, que pode parecer absurdo e ineficaz, não é tanto, visto que, quem realizou a prova logrou resultados bastante satisfatórios. Todavia, o que não se pode averiguar é a razão dos pedaços de esponja nos ouvidos, pois todos sabemos que tapar o conduto auditivo externo durante o mergulho, é prejudicial, pois impede a normal adaptação da membrana timpânica às variações de pressões. Para esta interrogação só cabe uma resposta possível, uma vez que a suavidade da esponja se adapta à pressão exterior, liberando o azeite e, este , em contato com a membrana timpânica, faz a sua lubrificação, favorecendo sua elasticidade.

Por certo que Aristóteles se ocupou, em sua parte científica, com os problemas que se apresentavam aos mergulhadores durante a imersão, tal como sangrar pelo nariz, a ruptura do tímpano ou a surdez, acidentes muito freqüentes nos mergulhadores de apnéia, principalmente nos coletores de esponjas e coral. Em uma de suas obras faz alusão a algo que tem relação com um tubo respirador, pois disse assim: "Os mergulhadores da época estavam dotado para permanecer longo tempo debaixo da água, respirando através de um tubo que os faz parecerem com os elefantes."

Do Império Romano à Idade Média

A pesar de toda a atividade e tradição subaquática dos gregos, seria outro povo sem nenhuma tradição marinha que chegou a criar as primeiras unidades organizadas de mergulhadores de combate: "os urinatores". Estas unidades estavam formadas por jovens atletas que dominavam com perfeição a natação e o mergulho, e entre suas missões mais importantes destacavam-se: atacar as defesas dos portos inimigos; afundar os barcos fundeados e transferir seus estoques de armas, alimentos e mensagens às guarnições sitiadas. Estas unidades chegaram a alcançar um grau de operatividade tão alto que contra elas foram concebidos os engenhos mais diabólicos, desde a simples rede cheia de campainhas que denunciavam sua presença, até máquinas infernais providas de rodas com afiadas machadinhas que funcionavam na entrada dos portos e arsenais e que mutilavam horrivelmente os aguerridos mergulhadores. Se diz também que os guardiões daquelas instalações estavam providos com largos tridentes que espetavam os mergulhadores.

Os "urinatores" tiveram sua primeira atuação nas guerras de César contra Pompeo, no porto de Orique, no Mar Adriático; segundo narra Don Casius, no ano de 49 a.C., estando sitiadas as tropas de César pela esquadra de Pompeo, seus mergulhadores nadaram submergidos durante a noite até os barcos inimigos; enganchando potentes garfos e cortando as amarras, os rebocaram sigilosamente até a terra, onde foram atacados e vencidos pela guarnição sitiada. A partir deste momento, suas ações se sucederam uma atrás da outra, até chegada ao ano 200 de nossa era, quando constam as últimas informações de suas operações, as quais tiveram lugar durante o cerco de Bizancio pelo General Severo.
Com a queda do Império Romano se perde, em parte, a continuidade das atividades subaquáticas, a nível militar, por parte dos famosos "urinatores" e, ainda quando seguem existindo ao tempo medieval, sua atividade perde a condição guerreira, até que se dedicaram a atividades de recuperação de barcos afundados, trabalhos em portos e arsenais, correio entre ilhas, etc., atividades que deram lugar à aparição dos primeiros mergulhadores profissionais da história. A respeito dos correios entre ilhas, o jesuíta Atanasio Kircher (1601/1680) falou em seus escritos da existência de um certo personagem que se dedicava a passar mensagens de um lugar para outro no estreito de Mesina, um tal de Nicolao, que todo mundo conhecia como "O Peixe"; menciona façanhas incríveis, entre elas que percorria até quinze léguas marinhas (5555 m cada uma) e que nesses percursos abordava as naus para facilitar a seus tripulantes informações daquelas costas marítimas e, em troca, lhe davam comida e bebida. Diz-se, também, que se dedicava a recuperar barcos e objetos afundados e que, uma vez foi solicitado pelo Rei da Sicília para que recuperasse uma taça e ouro que havia caído no mar, em um lugar de bastante profundidade e fortes correntes, operação que terminou com êxito. Joviano Pontanus disse que ele havia abandonado de tal forma os costumes dos homens que chegou a perder sua aparência humana, pois seu rosto era escamoso e horrível. Consta que o poeta alemão Friedrich Schiller se inspirou na vida deste personagem para compor a sua balada O Mergulhador.
Na época medieval se perdeu todo interesse pelas coisas do mar, de onde as pessoas somente viam monstros horríveis em suas profundidades, e daquela antiga pujança marinha e subaquática somente os romano-bizantinos mantiveram alguma atividade, ainda que sem apontar nada de novo. Também nas regiões de grande desenvolvimento desta atividade, como a Grécia e a Sicília, havia alguns mergulhadores que se dedicavam à coleta de esponjas e corais. Como visto, os mergulhadores gregos sempre tiveram fama em todo o mundo.

Da Idade Média ao Século XIX

O Renascimento traz, entre outras coisas boas para a Humanidade, o despertar do interesse, durante todo o período medieval, pelas coisas do mar, com a principal aventura das grandes conquistas marítimas. Se repassaram os limites do tão temido "mar tenebroso" e os horizontes do homem europeu se ampliaram até limites impensados. Com este impulso dado pelos homens da ciência da época e o interesse por estes temas e pela conquista das profundidades marítimas, nasceu o "Ars urinatoria", como então foram chamados, de cuja tentação nem Leonardo da Vinci se liberou. Da Vinci, dentro outros inventos mais ou menos fantásticos, desenhou umas luvas palmeadas e uns pés de pato (nadadeiras), mas a sua mais original criação subaquática foi um capuz de couro que cobria a cabeça e o pescoço do mergulhador e colocou, na altura da boca, uma saída de um tubo respirador. Ademais, o capuz era coberto por agudos espinhos que, segundo Da Vinci, serviam para defender-se dos peixes. Curiosamente, a longitude do tubo não era superior a dos atuais; Leonardo, deve ter intuído ou, quiçá, comprovado, ainda que desconhecendo os princípio da hidrostática, que um tubo com tamanho maior não era utilizável, e não caiu nos exagerados desenhos de Vegecio.

Na mesma época é o historiador militar Renato Vegecio descreveu o equipamento dos "urinatores", e inclusive o ilustra com gravuras mais ou menos pitorescas. E já se sabia que estes mergulhadores levavam como único equipamento um machado, braceletes de chumbo onde se gravavam as mensagens e um tubo respirador, que, segundo alguns acreditam, não deviam ter muito a ver com a figura dos livro de Vegecio e que este assim descrevia : "Portavam capuzes de couro com um tubo na parte superior, que aflorava à superfície, e saco cheio de ar para sustentar seu extremo em flutuação, construídos com a pele do estômago dos cordeiros".

Seu quase contemporâneo Diego Ufano introduziu algumas modificações nos desenhos de Vegecio, tais como colocar pesos nos pés do mergulhador e abrir orifícios no capuz na altura dos olhos, acoplando umas lentes de haste muito delgados, fixados com arandelas. Não cabe dúvida de que isto demonstrava o interesse daqueles povos em melhorar o equipamento dos mergulhadores. Todavia a vista do desenho de Vegecio se vê facilmente que um tubo respirador daquela longitude não era utilizável.

Alguns outros engenhos também surgiram, como demonstra o desenho de Pedro Ledesma, a respeito de um equipamento concebido no ano de 1623.

Fora os tímidos projetos de Leonardo, Vegecio e Diego Ufano, não se tem notícias de que outros desenhos ou invenções. O sino de mergulho ("lebeta") ainda era utilizado, com as limitações conhecidas, pois ainda não se havia obtido a renovação do ar em seu interior, nem conhecidas as causa de sua escassez, da qual os sábios da época diziam "se resolvia em maus e fortes humores." Todavia, conscientes do mal que atacava implacavelmente os mergulhadores dos sinos, trataram de resolver o problema suprindo ar desde a superfície através de um tubo, operação irrealizável sem poder dispor de um compressor de ar, por cuja razão o projeto teve que ser desenhado, pois escapava mais ar do que penetrava no interior. Esta situação se manteve até o ano de 1648, quando o famoso físico francês Blas Pascal deu lugar ao seu conhecido teorema, que seria o princípio fundamental da hidrostática. Descobrindo que unindo o realizado na mesma época pelo físico italiano Evangelista Torricelli, com o que se pode medir a pressão atmosférica, se aclaram grande parte dos muitos problemas que até então atormentavam os cientistas.

Com alguns conceitos científicos mais claros, mas ainda limitados quanto aos meios materiais - pois não podemos duvidar que na época não eram disponíveis para a construção de seus inventos outros materiais, que não o ferro, a madeira e o couro - físicos franceses, alemães e italianos trabalharam em excesso para desenhar aparatos mais ou menos fantásticos, alguns distanciados da clássica campana e, dentre outros, cabe destacar por sua originalidade para a época o do físico italiano Giovanni Alfonso Borelli, no ano de 1652. O invento consistia em um suposto equipamento de mergulho. Como vemos na ilustração, o depósito de ar, em que o mergulhador enfiava a cabeça, constituía-se de um saco de couro de grande tamanho, que em sua parte dianteira levava acoplada uma vigia (abertura) para facilitar a visão. O ar que se aspirava pelo nariz era expulso pela boca através de um tubo no qual, a um oitenta centímetros de distância, havia um pequeno saco, por onde, segundo o autor, eram retidos os vapores quentes; o corpo do mergulhador era protegido por um traje de couro, curiosamente, o equipou com um par de nadadeiras que lembravam as garras de um felino ligeiramente espalmadas. O mais curioso neste equipamento era o cilindro que, a pretexto de estabilizador hidrostático, levava preso na cintura; ao que parece, o ar comprimido manualmente no cilindro deixava espaço livre em seu interior na água, o qual aumentava seu peso; em sentido contrário, ao dilatar-se o ar expulsava a água e o cilindro flutuava. Pelo menos na teoria - assim assegurava seu inventor - , já que este aparato, ao que parece, não passou de simples projeto, pois nem sequer foi provada sua eficiência, um tanto duvidosa apenas com a vista do desenho.

Inobstante todos estes projetos, o sino de mergulho continuava sendo utilizado, pois não havia sido obtido nada que o substituísse, pelo que, durante vários anos, os cientistas se limitaram a aperfeiçoar a campana. Em 1665, o escocês Jean Barrí desenhou uma campana na qual introduziu um tamborete para o descanso em seu interior; na mesma época, o veneziano Boniauto Lorini incorporou pela primeira vez uma janela que permitia observar o exterior, que declarou "útil para a recuperação de canhões afundados ou de qualquer outro objeto que tivera sido afundado e para a pesca de coral. Com efeito, o que daria uma nova concepção à campana (sino de mergulho) seria o astrônomo e cientista inglês Edward Halley (1656/1742), o qual, talvez um tanto cansado de tanto olhar o céu, dirigiu sua atenção para uma nova dimensão, que se apresentava como incipiente conquista dos fundos marinhos pelo homem. Baseando-se em modelos conhecidos, todos de reduzidas dimensões, desenhou uma campana (sino) de grandes dimensões, com capacidade para quatro pessoas, adicionando um banco circular, no qual se podia permanecer sentado em seu interior. Porém o mais engenhoso era a forma pelo qual se fornecia o ar, que chegava ao lado em barris e se transportava para o interior do sino por meio de tubos, dotando de uma grande autonomia. Sem dúvida, não terminou aqui a capacidade inventiva de Halley, pois quis facilitar aos mergulhadores uma autonomia independente do sino, adotando um mini---sino de uso pessoal, recebendo ar deste a campana principal (matriz).

A prova de água da campana de Halley teve lugar no ano de 1690; alguns autores creditam a paternidade deste invento ao físico francês Denis Papin.
O irlandês Sparling introduziu a novidade de que os tripulantes poderiam movimentar o sino à vontade, mas, o que realmente aperfeiçoou o sino com fundamentos modernos foi o engenheiro inglês John Smeaton (1724/1792), que idealizou renovar o ar em seu interior por meio de uma bomba pneumática. A incorporação deste método para o suprimento de ar deu lugar à criação de novos desenho de equipamentos de mergulho, que já se assemelhavam ao clássico escafandro de mergulho.

O primeiro passo conhecido se deve ao inglês John Lethebridge, que inventou em 1716 um aparato consistente numa espécie de tonel construído de madeira reforçada com aros de ferro, no qual se introduzia o mergulhador um mais abaixo da cintura; para os braços dispunha de orifícios revestidos de couro; o ar era fornecido através de uns tubos na altura da boca, enquanto o ar expirado saía pela parte inferior do tonel. Na realidade, era uma adaptação da clássica campana para o uso individual.

Neste época o conhecimento das técnicas da imersão tinha sido melhorado sensivelmente. Isto, unindo o que já se conhecia de certos adiantos mecânicos, proporcionou que cientistas da época criassem novos modelos. Os franceses Freinemem (1772) e Forfait (1783) deram mais um passo em direção à criação do equipamento individual de mergulho. Quatorze anos mais tarde, o alemão Klingert, reconhecendo todas as experiências anteriores, construiu um novo equipamento, de concepção mais avançada. Constava de quatro partes principais: o casco, que era unido à parte central, construído de couro e protegida por arandelas de ferro, de onde saiam os braços, de forma similar ao modelo de Letherbridge; a parte inferior, que era segura por arandelas de ferro ao corpo central, levava uns calçados de couro até a panturrilha. Todo o conjunto do equipamento se comunicava com um depósito de ar de forma cilíndrica em sua parte central, que poderia servir de estabilizador, já que podia ser acionado por meio de um mecanismo que permitia ao mergulhador ascender ou descender à vontade. Para manter o equilíbrio hidrostático, era dotado de uns pesos de chumbo colocados junto aos tubos e na cintura, e , pela primeira vez, calçava-se sapatos de chumbo.

Do Século XIX aos nossos dias.

A partir do ano de 1800 os novos modelos de aparato de mergulho se sucederam; franceses, ingleses e também alemães se dedicam em obter um equipamento de mergulho autônomo que libere definitivamente o homem da campana e que abra de forma definitiva as portas do mundo submarino.
O primeiro passo foi dado em 1819, como engenheiro alemão August Siebe, que dezenove anos mais tarde seria o inventor do primeiro equipamento clássico de mergulho. O seu primeiro invento consistia em um casco metálico de forma semi-esférica a que denominou de "escafandro"; dispunha de uma vigia dianteira e sua parte inferior se apoiava sobre os ombros do mergulhador; o ar era bombeado da superfície e recebido através de uma válvula antiretrocesso inventada por ele, enquanto o ar expelido era liberado de forma natural, pela parte inferior, Com isso se dotava o mergulhador de um aceitável equilíbrio de pressão e uma respiração bastante cômoda. Este equipamento tinha o inconveniente de que, devido pela parte inferior do caso saía o ar livremente, obrigava o mergulhador a manter-se em posição erguida, já que com qualquer inclinação do casco se produziam perdas de ar, com a correspondente entrada de água em seu interior, limitando a liberdade de movimentos. Apesar de tudo, aparatos similares, ainda que de conceitos mais modernos, vinham sendo utilizados até relativamente pouco tempo.

Poucos anos depois de aparecer o "escafandro" de Siebe, o engenheiro inglês William Henry James inventou o primeiro equipamento de mergulho de circuito fechado. A concepção era muito parecida com os atuais aparelhos deste tipo, posto que o gás respirado era oxigênio, no circuito respiratório fechado, e a depuração se efetuava através de um cartucho de potássio cáustico. Todo o circuito respiratório se fazia no interior de um saco pulmonar de borracha, em cujo interior ia acoplado o cartucho filtrante, enquanto que o gás era abastecido em uma pequena garrafa de aço acionada manualmente a vontade, por meio de uma chave.

Chegamos ao ano de 1837, em que August Siebe, como resultado de sua experiência anterior, criou o primeiro traje de mergulho completo e batizado com o nome de "diving-suit" (traje de mergulho). O novo equipamento era composto de traje completo e casco unidos; o traje era confeccionado com lona recauchutada de grande resistência e o casco era de cobra, com três vigias circulares (uma dianteira e duas laterais), que dotavam o mergulhador de um amplo campo de visão, enquanto que o ar penetrava pela parte superior de uma forma similar a de seu modelo anterior, a evacuação do ar expirado se realizava através de uma válvula situado em um lado do caso. O ajuste do casco como traje, que era uma só peça, se realizava por meio de uma arandela colocada na parte superior do traje, na altura do peço do mergulhador, que se ajustava à base do caso por um sistema de meia volta a pressão.

O escafandro de Siebe resultou em êxito e foi adotado pelas marinhas militares de muitos países, assim como pelos profissionais da época.

Entre tantos dados históricos, merece fazer menção dos acontecimentos que, mesmo não guardando relação direta com o invento de novos equipamentos de mergulhos, entram diretamente na história da navegação submarina. Se trata dos inventos dos espanhóis Narciso Monturiol e Issac Peral e Caballero. O primeiro inventou um submarino que batizou como Ictíneo ("O Barco Peixe); foi criado em 1859 e posteriormente melhorado em 1864, e suas provas de mar deram excelentes resultados, mas, devido à cegueira das autoridades da época, acabou por ser vendido em leilão público. Não ocorreu melhor sorte ao submarino de Issac Peral que, ainda que melhorando notavelmente o modelo de seu compatriota Montouriol, incorporando pela primeira vez na história o sistema de propulsão elétrica durante a imersão, com uma maior capacidade de tonelagem e um desenho mais avançado, restou relegado ao mais indiferente de todos os ouvidos.

No decorrer da história, também surgiram algumas invenções curiosas, como o escafandro rígido articulado criados pelos irmãos franceses Carmagnole, em 1882, na primeira tentativa de levar o homem ao fundo do mar a seco. Este modelo, além de não ser estanque o suficiente, tinha um peso elevado, impedindo a locomoção do mergulhador no fundo do mar.

Entretanto, as tentativas de dotar o homem com uma maior autonomia debaixo da água se sucediam e se alcançavam cada vez mais maiores profundidades, e, foi quando começaram a surgir os problemas provocados pelas variações de pressão a que, cada vez em maior medida, se viam submetidos os mergulhadores. O temido "golpe de ventilação" e a "subida em balão" eram os pesadelos dos mergulhadores de então e, com o fim de encontrar uma solução a estes problemas, as investigações se orientaram para uma aparelho que facilitaria a regulagem automática do suprimento de ar e que ao mesmo tempo pudesse liberar o mergulhador do cordão umbilical da superfície. Aqueles cientistas que tinham consciência dos problemas que atormentavam o mergulhador, continuavam sem levar em conta que o homem se movia na água em um meio 800 vezes mais denso que o ar e insistiam em fazer o mergulhado caminhar erguido, ereto, arrastando sapatos de chumbo.

Por fim, o tão esperado acontecimento se produziu por obra de um oficial da marinha francesa e um engenheiro: Auguste Denayrouse e Benoit Rouquayrol, ambos em colaboração, conceberam um aparelho que deram o nome de "aerófago" (portador de ar) e que pela primeira vez regulava automaticamente o suprimento de ar e libera o mergulhador da dependência da superfície. O aparato era simples: o depósito de ar consistia em um pequeno recipiente de forma cilíndrica e esférica, fabricado em placas de aço, com uma capacidade de 8 dm3 de ar a uma pressão de 30 kg/cm2 (3 atm), o qual levava em sua partes um peça de forma similar a uma caçarola que se comunicava com este através de uma válvula cônica; a parte superior desta peça fazia as vezes de um regulador de pressão através de uma membrana que entrava em contato com a água e que, segundo a pressão que recebia, atuava sobre a válvula de forma que o suprimento de ar era regulado à pressão ambiente. Deste peça que funcionava como regulador saia um tubo em cujo extremo tinha um encaixe, pelo qual recebia o ar e que tinham incorporado uma válvula tipo "bico de pato" para evitar a entrada de água, Sem dúvida, este invento foi transcendental para a época e por suas conseqüências posteriores, posto que, por fim, se havia obtido o princípio da membrana equilibradora, que representou o primeiro passo para o regulador automático de pressões.

Este aparelho foi pouco utilizado, já que sua autonomia era muito limitada e que, por não dispor de um sistema de visão adequado, o mergulhador, uma vez submergido, ficava praticamente cego. Teriam que ser percorridos mais alguns anos para que outro inventor francês, marinheiro de profissão e apelidado Le Prieur, desenhasse em 1925 outro novo aparato, baseado no de Denayrouse y Rouquayrol, que melhorava sensivelmente este modelo. Este aparelho era dotado, pela primeira vez, de uma garrafa de aço carregada a 150 atm, mas sua capacidade era muito limitada pois não passava de 6,5 litros . O regulador era acoplado sobre a garrafa e tinha duas câmaras: uma de pressão ambiente pela qual penetrava a água e outra de baixa pressão; entre ambas as câmaras tinha ajustada uma membrana que fazia o papel de equilibrador de pressão, da qual saia o tubo de suprimento de ar. O aparelho tinha uma manômetro de facilitava ao mergulhador um suprimento de ar adicional, quando o regulador não enviava o suficiente. Ademais, pela primeira vez se utilizou um sistema de visão submarina por meio de uma grande máscara facial, por cuja borda inferior se expulsava o ar expirado.

Porém, este aparelho não chegou a satisfazer todas as esperanças que se haviam depositado, pois o fato de não dispor de um controle do consumo de ar, presumia um desperdício que limitava de grande maneira sua autonomia, que ficava reduzida a uns quinze minutos, a profundidades não superiores aos 12 ou 15 metros, apesar de que nas provas de profundidades maiores, realizadas com este aparelho, se chegaram a atingir satisfatoriamente os 50 metros de profundidade.

Indubitavelmente havia se dado um importante passo, com a liberação do mergulhador do cordão umbilical da superfície e com isso a opressão psíquica dos escafandros clássicos até então utilizados, ademais, possibilitaram o conhecimento de uns elementos de segurança que anos mais tarde se confirmariam como definitivos. Somente ficava por atingir um pequeno, mas importante detalhe: liberar ao mergulhador em seu deslocamentos embaixo d'água, da posição erguida e dos pesados sapatos d chumbo. Oito anos depois do invento de Le Prieur, um outro compatriota, marinheiro de profissão, apresentou ao alto comando da marinha militar francesa, um par de nadadeiras de borracha e, mesmo que aquela demonstração não tenha causado nenhuma sensação, no transcorrer dos anos, foi reconhecido o valor do invento de Luis de Corlieu.

É de se notar que os modelos de "escafandros" da década de trinta, como o da ilustração , são muito semelhantes aos atuais. No ano de 1930, o engenheiro inglês Joseph Peress concebeu um outro tipo de escafandro, a Tritônia, moldada em liga de magnésio e destinado aos mergulhadores de pesquisa de petróleo, para mergulho a seco e minimizando os efeitos da pressão, tendo o próprio inventor descido a 135 metros de profundidade.

Hoje, as roupas de mergulho profissional ainda são diretamente baseadas na invenção de Peress, possibilitando um mergulho aos 600 metros de profundidade, conforme se compara na foto .

Em 1937, na costa francesa do Mediterrâneo, se testou um dos primeiros cilindros de ar comprimido, em que o mergulhador regulava manualmente o fornecimento do ar, abrindo e fechando uma torneira.

Em 1943, outro francês chamado George Commheines realizou a primeira prova de um equipamento de sua invenção que melhorava sensivelmente o aparato de Le Prieur. Foi testado nas águas de Marselha e obteve êxito ao alcançar os 35 metros de profundidade. Inobstante e paralelamente aos trabalhos de Commheines, no mesmo ano de 1943, foi constatado um feito histórico na evolução do mergulho: outra equipe, curiosamente composta por outro marinheiro e um engenheiro (recordemos a coincidência com Denayrouse y Rouquayrol), deu os últimos toques e se dispôs a submeter a prova do aparato que seria aquele com que tantas gerações de subaquáticos haviam sonhado. A equipe para esta operação era composta do engenheiro Emile Gagnam, o marinheiro Jacques Ives Cousteau e um jovem desportista que provaria o aparato: Fréderic Dumas. O acontecimento teve lugar numa formosa manhã do mês de julho, na Costa Azul. De uma forma discreta, aparentemente sem importância, como todas as coisas transcendentes, Dumas conseguiu alcançar os 63 metros de profundidade. A prova havia sido um êxito.

O aparato Cousteau-Gagnam, conhecido com "Aqualung", estava baseado em seus predecessores de Denayrouse e Rouquayrol e Le Prieur, pois Cousteau e Gagnam tinham adaptado o sistema da membrana equilibradora de pressão, melhorando sensivelmente seu conceito, pois que todo processo e regulação de pressões se realizava em um corpo único de regulador composto de três câmaras: de alta pressão, de baixa pressão e de pressão ambiente. Apresentava, ainda, uma grande novidade, cujo circuito respiratório se desenvolvia praticamente todo através do regulador. O regulador tinha incorporado dois tubos traqueais: um de admissão de ar e outro de expulsão que ia desde a boquilha até a câmara de pressão ambiente, de onde sai o ar para o exterior. Sistema que facilitava um meio de respiração bastante cômodo até profundidades muito aceitáveis, até então vedadas ao homem. Outra das vantagens do novo aparelho era a autonomia que davam as três garrafas de aço de 5 L cada uma, carregadas a 150 atm.

Também os alemães trabalhavam em um equipamento de circuito fechado, dedicado ao salvamento das tripulações dos submarinos. O aparato, conhecido como "Aparato Davis" era de circuito cerrado e carregado com oxigênio, por isso que sua utilização era muito mais limitada que a do "Aqualung", mesmo assim, era de larga utilização na Segunda Guerra Mundial, pelos mergulhadores de combate.

Compare na foto, datada de 1943, um grupo de mergulhadores da marinha inglesa durante a Segunda Grande Guerra: à esquerda um equipamento autônomo para imersões até 20 metros; no centro um escafandro típico, com descidas até 90 metros e o chamado "homem-rã" - mergulhador de combate e com natação próxima à superfície.

A partir de então, e principalmente após o término da 2ª Grande Guerra, a atividade subaquática contou em todo o mundo com um número cada vez maior de adeptos. Sobretudo na juventude após a guerra, os relatos das façanhas dos nadadores de combate(os "homens gamma" dos italianos; os "homens K" dos alemães; e dos "homens rã" dos ingleses), tiveram importância decisiva para a disseminação das atividades subaquáticas.

O invento do escafandro autônomo facilitou de grande maneira a penetração do homem no mundo subaquático, porém este aparato também teve - e continua tendo - suas limitações, pois todos sabemos que, com ar comprimido, a profundidades superiores de 60 metros a exposição ao perigo é uma constante. Este foi o motivo porque seus autores se limitavam a explorar sua patente e nada mais, porém, este começo foi um incentivo para que a partir de então o homem se dedicasse na investigação submarina e em alcançar cada vez mais profundidades maiores. Cousteau, junto com Dumas e Philippe Tellez, criaram o Groupe de Recherches Sous-marines, que posteriormente se denominaria Grouped'Etudes de Recherches Sous-marines (GERS), e a bordo de um caça-minas da 2ª Guerra, de 360 toneladas e 42 metros de cumprimento, convertido em barco oceanográfico (batizado como Calipso), percorreram todos os mares do globo, apontando inúmeros descobrimentos científicos e recuperando grande quantidade de sítios arqueológicos.

A grande aventura dos descobrimentos submarinos havia começado; depois, tudo seria uma sucessão de fatos e descobrimentos. Homens da ciência se interessaram pelas grandes profundidades; o primeiro deles foi o professor Auguste Piccard, cientista suíço que, igual a Halley, quica cansado de elevar-se às alturas, preferiu a conquista das profundidades. No ano de 1948, junto com o físico belga Max-Cossyns, construiu a primeira nave de investigação abissal, a que denominaram de Batiscafo (ou nave das profundidades) e cujas siglas eram FRNS-2, que correspondiam à fundação belga patrocinadora. Sua primeira imersão se realizou em água das ilhas Cabo Verde, chegando aos 1800 metros e ainda que a profundidade alcançada fosse importante para aquela época, a nave acusou certas deficiências de construções corrigidas no modelo seguinte, graça a colaboração do comandante Cousteau e de Tilliez. A nova nave, denominada FNRS-3, desceu em 1953, em água de Marselha, a uma profundidade de 1550 metros, cota que seria ultrapassada dias depois, alcançado os 2.100 m. A mesma nave chegaria aos 4.050 metros três anos depois, em águas de Dakar.
Mas não terminaram aí as tentativas do inquieto professor Piccard, pois imediatamente se colocou a trabalhar no projeto de uma nova nave submersível cujas primeiras provas realizou em agosto de 1953, com resultados plenamente satisfatórios; no mês seguinte, tripulado por seu filho Jacques, alcançaria os 1800 metros e três dias depois, pai e filho desceram aos 3150 metros; a imersão se realizou em águas do Adriático, em um ponto situado a 80 km da ilha de Ponza.
Enquanto isso, a equipe de Cousteau trabalhava no projeto de um submergível, mesmo que menos ambiciosa da realizada pelo Prof. Piccard, não por isso era menos útil; naquele momento somente estavam interessado na exploração da plataforma continental. Em seu projeto também participaria um velho colaborador de Cousteau, o engenheiro Emile Gagnan, enquanto a construção seria dirigida pelo engenheiro francês do CFRS, Jean Mollard. A primeira aprova desta pequena e, como depois se mostraria, utilíssima nave submergível, se realizou em 1957 nas águas do Mediterrâneo, mas, por causa de uma falha em um dos cabos de amarração, ao ser colocada na água se soltou, caindo ao fundo de 1.000 metros, e, ainda que não tenha sido projetada pela tal profundidade, com grande surpresa para seus construtores, ao ser recuperada, se pode observa que apenas havia sofrido danos em sua estrutura principal; isso serviu para que continuassem com o projeto e construção de uma segunda nave submarina, que seria denominada de La soucoupe plongeante (disco mergulhador) D S-2, tendo sido batizada com o nome de Denise; dispunha de uma autonomia de 24 horas e lotação era de dois homens. Sua primeira prova se realizou em águas da plataforma continental de Porto Rico, em 1959, sendo tripulada por Albert Falcó e Jean Mollard, operação que resultou em pleno êxito. Meses depois, na baia de Ajaccio (ilha da Córsega), também tripulada por Falcó e Cousteau, alcançariam os 300 metros de profundidade máxima para que havia sido construída. Posteriormente, este aparelho seria utilizado numa infinidade de ocasiões durante as jornadas do Calipso.

Na medida em que os cientistas continuavam a trabalhar e construir submergíveis capazes de alcançar maiores profundidades, o interesse pelos recordes de profundidade, seja em apnéia (pulmão livre), seja por escafandro autônomo, começa a ter mais adeptos. No que diz respeito ao mergulho livre (apnéia) e sem que se tenha a remontar aos antigos pescadores de esponjas e corais, se dispõe de dados mais recentes, ainda que um pouco contraditórios. Das imersões dos mergulhadores gregos, alguns autores mencionam apenas um deles (Scotti Geris) a 60,95 metros em 1913, outros escritores referem apenas ao seu compatriota Starki Hasikel em 1918, que descendo para liberar uma âncora engatada aos 80 metros de profundidade, para cuja tarefa se serviu de uma simples pedra como contrapeso. Ambas façanhas, se considerarmos a forma em que foram realizadas, são dignas de menção, mas, sem dúvida, é a última a que se pode qualificar de marca não superada, pois enquanto atualmente já tenha ultrapassado os 100 metros em apnéia, devemos considerar que aquele mergulhador carecia dos meios e conhecimentos disponíveis aos mergulhadores de hoje, os quais, ainda que possuindo os meios e conhecimentos atuais, demoraram mais de vinte anos para poder superar a marca de Hasikel.

Foi a partir do ano de 1949, quando começaram as primeiras tentativas de recordes em apnéia; a primeira tentativa foi creditada ao italiano Raimondo Bucher, que alcançou os 30 metros, batendo aos 39 metros três anos mais tarde; o também italiano Alberto Novelli, em 1953, obteve a marca dos 41 metros, que outro italiano, Anerio Santarelli, superaria em 1960, atingindo os 60 metros.
Também os mergulhadores autônomos desejavam conhecer o limite de suas possibilidades e a equipe de Cousteau inicia, em 1946, uma série de provas, sendo que, em uma delas, na profundidade de 120 metros, pereceria um dos membros de sua equipe, o contramestre M. Farques. Dois anos mais tarde, Fréderic Dumas desceu aos 93 metros, deixando esta cota como limite para o mergulho autônomo; todavia, seria um espanhol, o catalão Eduardo Admetlla, que no ano de 1957, equipado com um equipamento autônomo "Nemrod" e com carga de ar comprimido, alcançaria as águas de Cartagena aos 100 metros de profundidade, recorde jamais superado com esta classe de equipamentos. Ainda que dois anos mais tarde a equipe formada pelos italianos Falcó, Novelli e Olgiani obtivessem a marca de 130 metros, o fizeram em condições técnicas superiores ao espanhol Admetlla, já que para esta prova utilizaram um regulador desenhado por Novelli, de características muito melhores que o do tipo standard utilizado por Admetlla.

Os êxitos de Piccard e Cousteau serviram de incentivo para que os técnicos e cientistas de outros países também se interessassem pela conquista das profundidades. Os norte-americanos, sempre abertos a qualquer novidade, captaram o professor Piccard e, em colaboração com a U.S. Navy, este começou uma série de experiências com o batiscafo Triestre, que em 1960, tripulado pelo filho do professor e um tenente da marinha americana, submergiram na Fossa das Marianas, alcançando a impressionante profundidade de 10.916 metros.

Apesar de todo o avanço científico, sobretudo se este se desenvolve em um ambiente que não é habitual ao homem, algumas conseqüências decorrentes da adaptação ao meio foram constatadas, problemas que não eram novos, já que começaram a aparecer nos primeiros tempos do mergulho com ar comprimido; o considerável aumento da autonomia dos equipamentos e o desejo de ampliar cada vez, fizeram que alguns cientistas dedicassem seus estudos à busca de soluções para estes problemas. Entre eles, cabe destacar o então jovem professor suíço Hans Keller, que, junto com o Dr. Albert Bühlmann, utilizando uma mistura de gases que haviam concebido, desceram varias vezes, durante os anos de 1959 e 1960, a profundidades de 120 metros em diversos lagos suíços, inclusive atingindo em uma ocasião os 155 metros, com a utilização de equipamento de mergulho autônomo. Com misturas similares, Keller submeteu-se em uma câmara hiperbárica da marinha francesa em Tulon, a uma pressão equivalente a 25 atmosferas (250 metros). Os problemas do nitrogênio, principal inimigo do mergulhador, começaram a serem investigados com técnicas mais avançadas, tais como reduzir a concentração de oxigênio em benefício do nitrogênio ou substituir o nitrogênio por hélio ou por hidrogênio. Todavia, apesar de todas as imersões com equipamento autônomo, inclusive com alguma dessas misturas gasosas, não superaram os 70 metros naqueles tempos, ainda que considerada a marca de 130 metros atingida, em 1945, pelo mergulhador sueco Zatterström, utilizando uma mistura de oxigênio, nitrogênio e hidrogênio, uma vez que, lamentavelmente, perdeu a vida nesta tentativa.
O Prof. Keller continuou suas experiências e, em 1962, submergiu nas águas da Califórnia a 300 metros, tripulando uma cápsula submergível, da qual efetuou uma saída e procedeu algumas evoluções em seu redor, durante vários minutos, utilizando uma mistura de gases de sua invenção, baseadas em suas experiências anteriores.
No mesmo ano de 1962, a equipe de Cousteau põe em marcha a operação "Precontinente I", dedicada a estudar o comportamento do homem alojado em uma casa submarina situada a 10 metros de profundidade. Esta experiência, que resultou em êxito, foi protagonizada por Albert Falcó e Claude Wesley, os quais permaneciam submersos ininterruptamente durante uma semana, realizando freqüentes saída à cotas mais profundas. O resultado desta operação animaria Cousteau a por em prática, no ano seguinte, outra de maior alcance, a "Precontinente II", elegendo para esta experiência as águas do Mar Vermelho. A operação consistiu em criar uma pequena colônia submarina, composta de três habitações submarinas. A primeira unidade, fundeada a 10 metros, era o principal abrigo dos aquanautas; a segunda unidade, situado ao lado da primeira, era a garagem do "disco mergulhador", enquanto que a terceira, a 26 metros, era ocupada somente pelos homens e servia de base para as operações de maior profundidade. Esta pequena colônia, que foi habitada por um mês ininterruptamente, tornou pública a adaptabilidade do homem a estas circunstâncias.

Durante este tempo, cientistas da marinha americana trabalharam em um projeto semelhante, no ano de 1964, nas águas da Califórnia, conhecida como operação "Sealab I", na qual 4 pessoas permaneceram, com êxito, durante 11 dias a uma profundidade de 58 metros.

O êxito dessas operações animaria seus realizadores a buscar metas mais ambicionas e, enquanto uma parte de Cousteau prepara a operação "Precontinente III", os norte-americanos trabalharam paralelamente na "Sealab II"; curiosamente, ambas operações se realizariam de forma convergente em data similar, e seu desenvolvimento iria produzir um acontecimento histórico. No mês de setembro de 1965, data de ambas operações, enquanto os americanos se encontravam em sua habitação submarina nas águas de La Joya (Califórnia), a 62 metros de profundidade, os franceses se achavam a 100 metros nas águas do Mediterrâneo; a distância entre os "habitats" era de 11.000 km, mas, pelos progressos da ciência, puderam estabelecer entre ambos uma conversa telefônica, entre Philip Cousteau e Scott Carpenter. Depois deste experimento se chegou à conclusão de que o homem, devidamente treinado e com equipamento apropriado, providos com os meios que a ciência e tecnologia moderna conquistou, pode realizar debaixo d'água qualquer atividade que normalmente realiza em seu ambiente natural. Certo que ainda encontramos limites que consideram estar nos 300 metros, mas, também é certo que, por muitos progressos que a ciência possa conseguir, existe um fato que coloca uma barreira intransponível: o de que, para sobreviver, o homem necessita respirar na atmosfera, o que significa que, qualquer que seja a mistura gasosa, por fluída possa ser, não bastaria para que nossos pulmões possam ventilar-se a profundidade maiores aos 500 metros (60 atmosferas).

Entretanto, Cousteau não havia abandonado o desenho e construção de novos submergíveis e lançou três novas versões, cuja referência numérica corresponde aos metros que podiam alcançar: o SP-350, o SP-1200 e o SP-3000. Depois das experiências da chamadas operações "Precontinent" e ante os problemas que constataram com os chamados cabos de segurança que uniam as habitações submarinas com a superfície e através dos quais se recebia a energia necessário, projetou e começou a construir um submarino de imersão profunda, totalmente autônoma, capaz de uma autonomia de 400 milhas e uma profundidade de 600 metros. O submarino estava projetado para poder pousar em qualquer lugar do fundo e servir de base para saídas dos mergulhadores, mas, lamentavelmente, este projeto tão ambicioso e tão interessante não passou de sua etapa inicial de construção, por falta de suporte financeiro. O curioso é que, apesar de tanto progresso científico e tecnológico, o homem continua desafiando o mar e a profundidade por seu próprios meios naturais, e os mergulhadores em apnéia seguem obtendo marcas e recordes. A marca de Santarelli foi superada por Enzo Maiorca que alcançou os 53 metros no ano de 1964, depois de outras marcas anterior, e que por um breve período superara o polinésio Tetake Williams, com 59 metros; esta marca por outro grande nome da apnéia, o francês Jacques Mayol, nascido em Shangai, que alcançou a marca de 60,358 metros em 1965. A partir deste momento e somente com um breve parêntesis dos três recordes obtidos pelo americano Robert Crof que, depois dos 64,616 metros, chegaria aos 73,150 metros, a briga maior era restrita entre Mayol e Maiorca; Mayol seria o primeiro a alcançar os 100 metros, proeza que obteve em 1977, se bem que Maiorca chegaria muito perto dessa marca; Mayol conseguiu atingir os 110 metros anos mais tarde.

Isto demonstra que, apesar de todo o desenvolvimento técnico e científico, o homem, utilizando suas próprias faculdades físicas, continuará conservando suas melhores qualidades físicas e naturais e colocará à prova, uma ou outra vez, em busca da superação de seus limites.

Este relato da evolução do mergulho através do tempo, demonstra o esforço do homem realizado através dos séculos, para conquistar os fundos marinhos, esforços que, como todos os avanços científicos, durante os últimos trinta anos, adquiriu um ritmo vertiginoso; com o avanço e sucessão de tantos adiantos tecnológicos e científicos, para que não haverá barreiras que posam limitar o gênio criador do homem. Ainda assim, as fronteiras que no momento nos impõe o meio marinho, parece que até certo ponto são insuperáveis e provavelmente será muito difícil ultrapassa-las, pois pensar em recorrer à cirurgia para transformar um homem em um semi-peixe, nos parece um tanto monstruoso. Todavia, se compararmos os êxitos atuais e os meios que um futuro próximo poderá oferecer, cabe pensar que a aventura submarina está apenas começando, pois as perspectivas que se abrem diante de nossos olhos, atônitos diante de tanto progresso, são inimagináveis. E, talvez, todas as fantasias que temos visto em tantas publicações de ficção científica sobre cidades submersas, grandes fazendas submarinas, etc. , nos façam pensar que, dadas as possibilidades da ciência do futuro, em espaço de tempo não muito longe, possam ser realidades e com elas o sonho de tantas gerações. Seria, então, quando se poderia produzir o curioso fenômeno do retorno do homem às fontes de sua origem, o mar.

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CAPA Veja RIO

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Materia da revista Veja-Rio.

REPORTAGEM DE CAPA

Perigo em alto-mar

Mergulhadores da Bacia de Campos
enfrentam uma arriscada rotina

Ricardo Fasanello

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Alan Swenson (à esq.), Rubens Alexandre e Marcos Antônio: elite Viagem ao fundo do mar

O mergulhador Marcos Antônio Vieira, 42 anos, reparava um duto de petróleo. A escuridão à sua volta era rompida apenas parcialmente com o auxílio de um robô que iluminava um imenso cardume orbitando ao redor da estrutura metálica e transmitia imagens para a sala de controle do navio, mais de 200 metros acima. Marcos usava o capacete impermeável equipado com lanterna e sistema de comunicação. O macacão de neoprene, largo no corpo para permitir a circulação da água quente que vinha pelo tubo conectado à superfície, dificultava os movimentos. A resistência física era drasticamente reduzida pela pressão atmosférica mais de vinte vezes maior. De repente, o susto.

Um peixe enorme, de estimados 200 quilos, abocanhou ferramenta, mão e braço de Marcos, até a altura do cotovelo. Felizmente, tudo não passou do susto. Marcos retirou o braço da boca do peixe, um inofensivo cherne que, em seguida, cuspiu a ferramenta. Ele concluiu o serviço e começou a longa viagem de retorno. Marcos é um dos oitenta mergulhadores de enormes profundidades que trabalham na manutenção de alguns dos 600 poços de petróleo, explorados por 41 plataformas, na Bacia de Campos. A empresa extrai óleo de poços a até 1 800 metros de profundidade. Nesses casos, a operação é toda automatizada. Mas um quarto dos poços fica a até 300 metros e, nestes, o trabalho dessa elite de mergulhadores é fundamental. No Brasil, há apenas duas companhias especializadas em mergulho de alta profundidade – estima-se que sejam apenas 25 em todo o mundo –, a Fugro Oceansat e a Acergy Brasil, ambas contratadas pela Petrobras para operações na Bacia de Campos.

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Diversidade: dutos de petróleo viram viveiros de peixes

Sustos como aquele de Marcos são comuns no trabalho, mas não são a maior preocupação dos mergulhadores. O tamanho do peixe, aliás, pouco significa em termos de perigo e dor. Outro mergulhador, o também surfista Renato Bellizzi, 39 anos, sofreu muito mais, vítima de um peixe infinitamente menor. Tão pequeno que ele só percebeu a presença do animal quando pisou nele. Era um peixe venenoso que estava escondido sob um duto. "O espinho perfurou o neoprene da bota e furou meu pé. Na hora, foi uma dor alucinante, e eu não sabia exatamente o que era." Bellizzi conseguiu voltar para a câmara e foi medicado. Peixes podem causar graves problemas, mas para os "astronautas" do mar, como eles são conhecidos, a principal preocupação é o equipamento. No mergulho raso, aquele mais comum, atingem-se profundidades de até 50 metros com o auxílio de um cilindro de ar comprimido, uma mistura de oxigênio e nitrogênio. Abaixo dessa profundidade, mudam as regras e os equipamentos. E os riscos aumentam consideravelmente. O trabalho de apenas uma dupla de mergulhadores desencadeia uma complexa operação que envolve dezenas de profissionais.

Ainda no navio, os mergulhadores são pressurizados de acordo com a profundidade em que vão trabalhar, nas chamadas câmaras hiperbáricas. Ali, passam a respirar uma mistura dos gases oxigênio e hélio. A primeira mudança no comportamento dos mergulhadores está mais para a comédia do que para o drama. Logo que começa a pressurização, os mergulhadores passam a falar com aquela voz de pato de desenho animado, por causa da ação do gás hélio no organismo. Na hora do trabalho, uma dupla de mergulhadores sai da câmara hiperbárica por uma escotilha e entra na cápsula conhecida como sino, que é lançada ao mar através de um túnel no centro do navio. Quando o sino chega à profundidade demarcada, um dos mergulhadores sai pela escotilha na parte inferior da cápsula, enquanto o outro permanece lá dentro. Após um máximo de seis horas de mergulho, o sino é recolhido, e a dupla volta para a câmara hiperbárica no navio.

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Tecnologia: robô monitora mergulhos

Para ficar horas trabalhando no fundo do mar, sob temperaturas que chegam a 6 graus, o traje é aquecido por água quente bombeada do navio por intermédio de um tubo – chamado de cordão umbilical. "Se há uma interrupção no fornecimento da água quente, começa o choque térmico, e o mergulhador tem alguns minutos para voltar ao sino antes de entrar em hipotermia (diminuição drástica da temperatura corporal)", frisa o mergulhador e surfista Robson Gitti, 42 anos, que já enfrentou o problema. A mangueira de água quente se desconectou do traje, mas ele rapidamente a reconectou. "É uma profissão dificílima, perigosa. Mas o que me fascina é a oportunidade de estar em um lugar onde pouquíssimas pessoas neste planeta vão chegar", diz Gitti.

A experiência tem um preço. Os mergulhadores são obrigados a viver numa espécie de regime de prisão semi-aberto. A câmara hiperbárica é um cilindro metálico, com 2,5 metros de raio e 6 de comprimento. No interior ficam dois beliches, uma mesa de aço inoxidável e duas fileiras de poltronas, assento e encosto feitos num colchão emborrachado laranja com 10 centímetros de espessura. A câmara é revestida de uma tinta verde-água e repleta de válvulas e tubos. O aspecto é frio, com cheiro de hospital, o lugar é pequeno e quatro mergulhadores permanecem confinados ali durante 28 dias. Saem para mergulhar e voltam direto para a câmara. "É um Big Brother levado ao limite extremo", define Carlos Paschoal, superintendente de mergulho da Fugro Oceansat.

A TV fica do lado de fora da câmara e tem apenas 14 polegadas, para poder ser vista através da escotilha de vidro. Não é permitida a entrada de equipamentos elétricos por risco de combustão provocada por fagulha. Apenas o telefone e o alto-falante da TV ficam dentro da câmara. Os mergulhadores precisam de auxílio externo para tudo: tomar água gelada, mudar o canal da TV, acionar a descarga do banheiro. Se houver um problema grave e o mergulhador tiver de sair da câmara, o supervisor autoriza o procedimento. Mas nada acontece de imediato. Se o mergulhador estiver pressurizado, por exemplo, para uma profundidade de 300 metros, ele vai precisar passar por um período de dez dias de descompressão.

Ricardo Fasanello/STrana
Big Brother: sala de controle monitora mergulhadores 24 horas

Para evitar crises dentro da câmara, os parentes evitam relatar problemas mais sérios nas conversas com os mergulhadores. Em um caso, a descompressão foi antecipada, e, ao sair da câmara, o mergulhador recebeu a notícia: o filho havia morrido e já estava enterrado. Em outra situação, a má notícia chegou ainda dentro da câmara. O mergulhador ligou para a mulher e quem atendeu foi o amante. O marido pediu imediatamente para sair da câmara. "O cara ficou louco, parecia um siri na lata. É uma preocupação constante saber que você está preso e o 'Ricardão', solto", diz um colega do mergulhador. "O confinamento, a sensação de isolamento, afeta muito o aspecto emocional dos mergulhadores", avalia Ricardo Vivacqua, médico responsável pelo atendimento aos profissionais da Fugro Oceansat. O aspecto físico é outro ponto muito exigido. "Há mergulhadores que perdem 4 quilos em apenas um dia de mergulho", conta Cláudio Street, médico da equipe da Acergy Brasil. As duas empresas realizam exames semestrais de todos os mergulhadores do quadro. Em caso de acidentes graves, os médicos são levados ao navio e pressurizados para atender o paciente ferido. "O mergulho profundo é como a Fórmula 1 ou uma viagem espacial. São atividades extremamente perigosas, mas com os riscos muito controlados", frisa Cláudio. A boa notícia é que, nos últimos dez anos, não há registros de mortes ou acidentes graves com mergulhadores das companhias contratadas pela Petrobras.

Mesmo no fundo do mar, os mergulhadores acompanham as novidades do mundo aqui na superfície. Durante a Copa do Mundo de 1994, Marcos Antônio estava a quase 300 metros de profundidade quando Branco marcou, de falta, o gol contra a Holanda que levou o time brasileiro à semifinal e ao título. A informação chegou até ele pela voz do supervisor, via rádio. Marcos comemorou com um sorriso e pouco mais. Em junho, ele vai repetir a experiência. Estará confinado entre a câmara hiperbárica e o fundo do mar quando o campeonato se realizar. Marcos, como todos aqui fora, torce para comemorar muitos gols brasileiros, mesmo que com voz de Pato Donald.

Mergulho profundo

Divulgação

80 mergulhadores em todo o Brasil, todos homens, realizam o trabalho em águas profundas

O mergulhador fica 28 dias confinado num cilindro de compressão e descompressão de 2,5 metros de raio por 6 metros de comprimento

Para que ele alcance 200 metros de profundidade, o processo de compressão dentro da câmara dura 18 horas e a descompressão se estende por 7 dias

O salário de um mergulhador varia entre 4 000 e 8 000 reais, de acordo com sua experiência

A Bacia de Campos tem 600 poços produtores de petróleo e 4 700 quilômetros de dutos

Os mergulhadores prestam assistência em 144 poços da região


Viagem ao fundo do mar

Ilustr. Ivonésio Ramos

1ª etapa ­ Na câmara hiperbárica, instalada dentro do navio, mergulhadores são adaptados à pressão atmosférica de uma profundidade determinada

2ª etapa ­ Uma dupla de mergulhadores entra no sino, que é lançado ao fundo. Ao chegarem ao ponto marcado, um deles sai da cápsula e segue até o local de reparo do duto

3ª etapa ­ O mergulhador termina o serviço, volta para o sino, retorna ao navio e permanece na câmara hiperbárica aguardando a próxima missão no fundo do mar

Fotos Divulgação

O mergulhador sai pela escotilha na parte inferior do sino... ...pisa sobre o lastro de proteção do sino e checa o equipamento...
...caminha pelo fundo do mar preso ao tubo com água aquecida... ...e procura a ferramenta ideal para iniciar o reparo planejado

Trabalho sob pressão

Fotos Ricardo Fasanello/Strana

A foto acima foi tirada através da escotilha de vidro de uma das câmaras hiperbáricas do navio Acergy Harrier. O cômodo da foto é uma sala e a escotilha fechada no canto direito dá acesso a uma outra câmara equipada com dois beliches. Há ainda um compartimento menor (abaixo), também isolado por escotilhas, com vaso sanitário, chuveiro e pia. Uma equipe na sala de controle monitora cada movimento dos quatro mergulhadores da foto.

Os remédios, refeições ou livros são repassados por uma pequena câmara que pode ser pressurizada e despressurizada em poucos minutos. Dentro da câmara há um telefone e um alto-falante conectado à televisão, que fica do lado de fora. Até para mudar o canal da TV, eles precisam de ajuda externa.

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CONDIÇÕES HIPERBARICAS


1. Condições do ambiente subaquático

• O ser humano vive, por assim dizer, no fundo de um mar gasoso e na superfície de um mar líquido. Suporta nessa superfície uma pressão atmosférica de 1,033 Kg/cm2 e a cada 10 metros de profundidade na água é como se outra pressão atmosférica se juntasse às preexistentes.
• Aventurando-se nas incursões submarinas, o homem enfrenta condições adversas, para as quais sua fisiologia não está preparada; sua inteligência possibilita-o vencê-las pelo uso de equipamentos por ele construídos. Alguns destes o mantém, mesmo nas profundidades oceânicas; outros preparam-no para adaptar-se a reagir favoravelmente a grandes aumentos de pressão; mesmo assim, o ser humano continua a sofrer os problemas que vamos agora comentar.

2. Efeitos da pressão no organismo humano

• Os efeitos podem ser diretos ou indiretos. Os diretos ou primários são aqueles que resultam da ação mecânica da pressão sobre as células e espaços corporais. Suas conseqüências são o barotrauma e a embolia traumática pelo ar.
• Os efeitos indiretos ou secundários são assim chamados devido às alterações fisiológicas, produzidas em decorrência das pressões parciais dos gases absorvidos pelo organismo.

• 2.1 Barotraumas


Do grego “baros”, cujo significado é pressão; barotrauma é o traumatismo causado pela pressão; é a lesão que sobrevêm da incapacidade do mergulhador de equilibrar as pressões entre um espaço aéreo e a pressão do meio ambiente; no estudo do mergulho são denominados em função do modo como ocorrem.

• 2.1.1 barotrauma do ouvido médio

A característica deste acidente é que ocorre sempre na fase de descida do mergulhador, sendo a doença mais leve e freqüente nos mergulhos. À medida que aumenta a pressão exterior durante a descida, a membrana do tímpano sofre o efeito direto desse aumento, abaulando-se para dentro, podendo inclusive romper-se, se o mergulhador não conseguir equilibrar as pressões por meio do envio forçado de ar através da tuba auditiva. Quando o tímpano se rompe, o ouvido médio é invadido pela água, e se a temperatura desta for baixa, o mergulhador poderá apresentar, por irritação dos canais semicirculares, náuseas e vômitos, sendo acometido pela Síndrome da Desorientação Espacial; esse fenômeno é de curta duração e tão logo a temperatura da água se eleve, os sintomas desaparecem. A ruptura da membrana timpânica requer tratamento médico especializado; na grande maioria dos casos, o médico toma cuidados gerais para evitar uma infecção e assegurar a permeabilidade das trompas, e apenas observa a cicatrização espontânea que se dá, normalmente dentro de uma a três semanas. Este acidente pode não deixar seqüelas, mas pode também causar diminuição da audição para determinadas freqüências, devido à cicatriz que se forma no tímpano.

• 2.1.2 barotrauma do ouvido externo

Ocorre pelo uso de tampões de orelha, rolha de cerúmen, ou o uso de gorros de neoprene muito justos, que acabam criando uma câmara fechada no ouvido externo. Nesse caso a membrana timpânica abaula-se para fora, surgindo edemas e lesões hemorrágicas no conduto auditivo; esse acidente tanto pode ocorrer na descida do mergulhador quanto na subida.

• 2.1.3 barotrauma dos seios da face

Como os seios faciais comunicam-se com a faringe por estreitas passagens, a obstrução de um desses circuitos por um processo inflamatório qualquer ou má formação anatômica, impede o equilíbrio das pressões, criando uma região de baixa pressão no interior das cavidades ocas, produzindo uma sucção nas mucosas que as revestem. A repetição deste acidente pode tornar-se sinusite crônica.

• 2.1.4 barotrauma dos pulmões ou torácico

Segundo a Lei de Boyle, a pressão e o volume são valores inversamente proporcionais, isto é, quando um aumenta o outro diminui. Dessa forma, à medida que o mergulhador vai descendo, a pressão aumenta consideravelmente e, por conseqüência, os pulmões vão-se comprimindo, reduzindo seu volume. A partir de um determinado ponto (quando se atinge o limite do volume residual), a flexibilidade da caixa torácica impede aos pulmões continuarem reduzindo seu volume e se o mergulhador prosseguir, haverá uma congestão e passagem de transudato (líquido que extravasa de uma membrana ou vaso sanguíneo) para o interior dos alvéolos, e finalmente edema agudo de pulmão.

• 2.1.5 barotrauma total

Só ocorre quando são utilizados equipamentos dependentes, rígidos e que formam espaços preenchidos com ar. Se a pressão no interior da roupa cair bruscamente (aumento brusco da profundidade ou interrupção no fornecimento de ar) a pressão exterior aumentada atua no corpo do mergulhador, podendo em casos extremos comprimi-lo em direção aos espaços internos do equipamento.

• 2.1.6 barotrauma facial ou de máscara

A pressão no interior da máscara facial deverá ser mantida em equilíbrio com a pressão exterior. A não equalização entre essas pressões ou a queda da pressão no interior fará com que a máscara se transforme em uma ventosa de sucção, atingindo a face propriamente dita e os tecidos moles, como globos oculares e capilares nasais. O mergulhador acusa a sensação de sucção durante o mergulho; na superfície geralmente são constatados edemas, equimoses faciais, sangramento nasal, hemorragia do globo ocular (casos graves) e nas conjuntivas.

• 2.1.7 barotrauma de roupa

Dobras na roupa de neoprene mal ajustadas ao corpo podem transformar-se em câmaras aéreas sem possibilidade de se equilibrar as pressões. Nesses casos podem ocorrer equimoses, sem maiores conseqüências.

• 2.1.8 barotrauma dental

Obturações mal feitas, sem o devido preenchimento total do canal podem levar à formação de espaços aéreos impossíveis de se equilibrar as pressões; dor muito forte ocorrerá durante a descida e o tempo todo em que o mergulhador permanecer sob pressão. O problema será resolvido após consulta a um especialista.

• 2.1.9 bloqueio reverso

Embora não conste na tabela apresentada anteriormente, o bloqueio reverso é também considerado um barotrauma do ouvido médio; ocorre na subida do mergulhador e é provocado pelo uso de descongestionantes, cujo efeito venha a terminar, gradativamente, durante o mergulho. Nesse caso, a redução da pressão que ocorre à medida da subida do mergulhador não pode ser equalizada devido a obstruções do conduto auditivo, por secreções, provocando o abaloamento do tímpano para fora.

• 2.2 Embolia traumática pelo ar

Também chamada de ETA, ocorre quando o mergulhador, tendo inspirado ar em um equipamento qualquer no fundo, volta à superfície sem o exalar durante a subida. Esse efeito é provocado pela Lei de Boyle, pois à medida que a pressão externa diminui, o volume de ar no interior dos pulmões aumenta. Como os pulmões têm uma elasticidade limitada, poderá haver uma hiperdistenção alveolar e, em casos extremos, poderão romper-se, criando bolhas de ar na corrente sanguínea.

Após o surgimento da hiperdistenção podemos ter o choque reflexo (sem ruptura), pneumotórax sem embolia, e finalmente a embolia pelo ar, cujo quadro é o mais grave.

Assim como todos os tipos de barotraumas, A ETA pode ocorrer com uma variação pequena de pressão (baixas profundidades), principalmente se estivermos próximos da superfície, havendo registros deste tipo de acidente com variações de menos de três metros; é de evolução rápida e deve ser atendido prontamente.

Outra característica importante é que esse acidente não ocorre no mergulho livre, pois os pulmões do mergulhador ao iniciar a subida em direção à superfície não poderão conter o volume de ar superior ao que tinham ao iniciar o mergulho; a exceção fica para o caso do mergulhador que executa o mergulho livre e, quando no fundo, respira ar de uma fonte qualquer (cilindro de ar, mangueira de ar, sino de mergulho, etc.). Ao voltar à superfície, se não exalar totalmente o ar de seus pulmões, a embolia fatalmente irá se manifestar.

• 2.3 Narcose pelo nitrogênio

Similar à embriaguez alcoólica, e por isso também chamada de “embriaguez das profundezas”, a narcose pelo nitrogênio é um tipo de acidente de mergulho provocado pelo aumento da pressão parcial dos gases componentes de uma mistura gasosa, em especial o nitrogênio, impregnando o sistema nervoso central.

As alterações comportamentais provocadas são tão intensas, que o mergulhador perde a capacidade de cumprir tarefas e despreocupa-se totalmente com os perigos que o cercam, podendo caminhar, de persistirem suas atitudes incoerentes, para uma provável morte por afogamento.

De modo geral, os sintomas começam a aparecer após os 30 metros de profundidade, e agravam-se à medida que a pressão aumenta, conforme demonstra o quadro abaixo:


• 2.4 Intoxicação pelo oxigênio

O oxigênio, gás indispensável para a vida, se respirado a 100% e a pressões parciais elevadas, pode trazer uma série de conseqüências danosas e mesmo fatais para o homem. Sua atuação, nessas condições, afeta o Sistema Nervoso Central e o aparelho respiratório. No SNC, produz uma série de desordens neurológicas e no nível respiratório, provoca uma “queimadura química” nos alvéolos pulmonares.

Podemos dividir esse item nos dois níveis de manifestação do problema: no SNC e no aparelho respiratório, como é demonstrado na tabela abaixo


• 2.5 Intoxicação pelo gás carbônico

O gás carbônico, CO2 ou dióxido de carbono, está presente no ar atmosférico na porcentagem de 0,04%. No processo respiratório do homem, é resultado da metabolização do oxigênio nos tecidos, e pode aparecer ainda em porcentagens maiores, como elemento adicional presente na mistura gasosa.

Através do processo respiratório, os tecidos são supridos do oxigênio que necessitam e o gás carbônico é eliminado para o ar atmosférico. Na realidade esses dois gases estão em constante equilíbrio, isto é, ora um aumenta e o outro diminui e vice e versa. Esse mecanismo funciona simplificadamente da seguinte maneira: quando o teor de CO2 se eleva no sangue, este se torna ácido e atua no centro respiratório existente no bulbo (na base do cérebro), que provocará uma necessidade de respirar, restabelecendo os valores adequados.

Quando por qualquer motivo a taxa de CO2 aumentar, podem ocorrer graves conseqüências para o mergulhador:


• 2.6 Intoxicação por outros gases

O ar que respiramos nos cilindros de mergulho é uma mistura gasosa composta por vários gases. Nas porcentagens certas não precisamos nos preocupar muito com eles; a ressalva a ser feita diz respeito às condições anormais de recargas de cilindros, onde por diversas razões, a mistura gasosa acaba tornando-se contaminada.

O monóxido de carbono (CO) é o resultado da combustão incompleta e pode aparecer facilmente na mistura respiratória devido à falta de cuidado na recarga dos cilindros ou operações com compressores. Este gás é incolor, inodoro e reage com a hemoglobina do sangue, impedindo-o de cumprir sua função normal de carregar o oxigênio para os tecidos; seus principais sintomas são: tonturas, dor de cabeça, sensação de pressão interna no crânio, têmporas latejantes e pele, unhas e lábios com tendência a apresentarem tonalidade avermelhada.

O gás sulfídrico (H2S) é o resultado de forte atuação de bactérias anaeróbicas (decomposição orgânica). Em baixas concentrações cheira a ovo podre, mas em concentrações maiores, é inodoro e incolor; assim como o CO, também reage com a hemoglobina do sangue. É encontrado em compartimentos fechados de naufrágios, ou qualquer bolsão com ar represado e não renovado, como cavernas subaquáticas; nunca se deve respirar sem o regulador no interior de naufrágios ou cavernas, a não ser que tenha a certeza da boa qualidade do ar.

• 2.7 Apagamento

Conhecido também como “black-out”, o termo apagamento refere-se à possibilidade da perda de consciência durante o mergulho, transformando-se num dos maiores perigos na prática do mergulho livre. Decorre basicamente da hipóxia cerebral que se segue à drástica queda da pressão parcial do oxigênio durante a subida. Como é um efeito que não apresenta sintomas prévios, o mergulhador não de dá conta do perigo e simplesmente “apaga”; caso esteja mergulhando sozinho ou sem acompanhamento, o final é sempre trágico e a morte por afogamento é inevitável. O apagamento é o grande responsável por inúmeros acidentes fatais envolvendo praticantes de caça submarina.

Embora com menos freqüência, pode ocorrer também na prática do mergulho autônomo; nesse caso está relacionado ao equipamento respiratório e/ou padrão respiratório do mergulhador. Há casos relatados de perda de consciência por respirações curtas devidas à tensão ou estresse do mergulho, tentativas de economizar ar do cilindro ou à baixa temperatura da água; de qualquer forma, o risco de afogamento é o mesmo.

• 2.8 Doença descompressiva

Conhecida desde o meio do século XIX, ganhou fama aterrorizante e uma série de apelidos entre os mergulhadores. Os primeiros relatos da enfermidade surgiram por volta de 1870, atingindo trabalhadores de minas que utilizavam caixas pressurizadas para permitir que trabalhassem secos em leitos de rios, tanto é que foi chamada por algum tempo de “mal dos caixões”.

Já no início do século XX, o fisiologista escocês John Scott Haldane criava as primeiras tabelas de mergulho, permitindo que integrantes da marinha inglesa fizessem incursões de até 60 metros de profundidade sem conseqüências descompressivas.

Por definição, a doença descompressiva ou DD é um quadro de múltiplas manifestações, devido à formação de bolhas no sistema circulatório e em alguns tecidos, ocasionado pela descompressão após a exposição a pressões barométricas acima do normal

Podemos dividir os fatores predisponentes para a ocorrência dA DD, naqueles relacionados com à saúde e estado físico do mergulhador, e nos proporcionados por condutas inadequadas ou má utilização de equipamentos:


• Considerado por alguns pesquisadores como fator predisponente, a obesidade não aumenta o risco de DD, mas, potencialmente, pode influir de modo negativo o aparecimento de manifestações mais graves da doença, quando atinge o sistema nervoso central.

Outros fatores a serem considerados:

• à medida que envelhecemos, nossa circulação e hidratação dos tecidos é menor, bem como aumenta a proporção de gordura na coluna vertebral;

• o tabagismo deve ser evitado, pois eleva o nível de gorduras do sangue;

• o frio durante o mergulho, além de torná-lo desconfortável, causa uma vasoconstrição na pele, diminuindo a circulação nesta área, o que irá retardar a eliminação do nitrogênio; e

• drogas e medicamentos que alteram a função respiratória e circulatória devem ser evitados.

Quanto à gravidade, a DD pode ser classificada em:

• Tipo I (DD I):

Chamada também de leve ou bends, a DD I é caracterizada basicamente por dores (articulares e/ou musculares), por prurido ou sensação “estranha” na pele e por inchaço de gânglio linfático;

• Tipo II (DD II):

Mais grave que a anterior, freqüentemente produz seqüelas. Pode ser subdividida em dois ramos:

• 1) cardiorespiratórios:

Devido à embolia gasosa da artéria pulmonar, se manifestam por uma sensação aguda de sufocação (chokes), falta de ar, dificuldade respiratória, sudorese abundante, respiração superficial, dor torácica, “batedeira” no peito e, com evolução do quadro, cianose, arritmia cardíaca e choque;

• 2) neurológicos:

Decorrem do comprometimento do sistema nervoso central, no nível cerebral e/ou espinhal. Manifesta-se por formigamento, perda da sensibilidade, impotência funcional de extremidades, perda da força muscular, paralisia de membros inferiores, ou sensação “estranha de moleza nas pernas”. Quando atingem o nível cerebral podem se manifestar como dor de cabeça, tonturas, alterações do comportamento, convulsões e perda da consciência. As vertigens podem ser acompanhadas de vômitos, zumbidos e dores provocadas por sons comuns.

Estudos indicam que 65% das vítimas de DD que receberam oxigênio no atendimento emergencial, acabavam sem sintomas e muitas vezes sem tratamento em câmara hiperbárica.

O primeiro registro de uma doença reconhecida como decorrente do mergulho foi feito por Aristóteles no ano 300 AC. Ele descreveu a ruptura da membrana timpânica em mergulhadores, hoje conhecida como barotrauma do ouvido médio, a mais comum das patologias do mergulho. Relatos históricos descrevem atividades de mergulho desde 4.500AC para a busca de pérolas, conchas, mercadorias e peças valiosas naufragadas e na sabotagem de navios inimigos – há descrições deste tipo de operação sob as ordens de Xerxes em 400AC.


Mas as doenças e lesões que certamente mataram e incapacitaram e até hoje ainda matam e incapacitam milhares de homens, mulheres e até crianças, não foram estudadas e identificadas até 1670, quando Boyle fez a primeira descrição do fenômeno descompressivo, demonstrando a formação de uma bolha de ar no humor aquoso do olho de uma cobra, em uma câmara de vácuo.

Ainda assim, quase dois séculos se passaram até que em 1841, Triger, um engenheiro de mineração francês, fizesse a primeira descrição dos sintomas da doença descompressiva, em operários de uma mina de carvão pressurizada com ar comprimido para evitar inundação.

Em 1854 Pol e Watelle, observaram que a recompressão aliviava ou mesmo abolia os mesmos sintomas.

Mas foi somente em 1878 que o fisiologista francês Paul Bert publicou a primeira obra clássica da especialidade: La Pression Barometric, na qual demonstrou que os sintomas da doença descompressiva decorrem da formação de bolhas de nitrogênio nos tecidos e que o oxigênio, quando ventilado ("respirado") sob pressões atmosféricas elevadas é tóxico para o sistema nervoso central, provocando convulsões (efeito Paul Bert).

A Medicina Hiperbárica tem uma dívida eterna com a engenharia de mineração, pois, além de Triger, outro engenheiro enxergou mais longe que os médicos da época, que afirmavam que se "o mal era causado pela pressão, então não tinha sentido aplicar mais pressão como tratamento" e prescreviam compressas e ingestão de conhaque para os operários acometidos.

Foi o engenheiro inglês E.W.Moir que em 1889, supervisionando a construção de túneis ferroviários sob o rio Hudson, em Nova York, decidiu instalar uma câmara hiperbárica e de forma empírica recomprimir e descomprimir gradualmente todo operário que apresentasse sintomas de doença descompressiva. Com esta atitude, Moir reduziu a mortalidade no local de 25% para 1,6%.

Inovação constante

A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) consiste, em uma modalidade terapêutica com inalação de oxigênio puro, estando o indivíduo submetido a uma pressão maior do que a atmosférica (2 a 3 vezes), no interior de uma câmara hiperbárica de paredes rígidas.

A Câmara Hiperbárica pode ser de dois tipos:

- Monoplace (monopaciente) -apenas um paciente é submetido a tratamento sob dentro de uma pequena câmara, sob pressão e com O2 a 100% (modelo que utilizamos no HMSM).

- Multiplace (multipaciente) -Vários pacientes são colocados dentro de uma Câmara, de tamanho maior, também sob pressão, porém cada um com uma máscara individual com oxigênio a 100%.

Na Medicina o tratamento com oxigenoterapia hiperbárica teve sua origem nas atividades de mergulho, ligada a exploração do ambiente subaquático, onde começaram a surgir problemas advindos da exposição do homem a este meio, como doença descompressiva.

A partir do século XIX, com o desenvolvimento de equipamentos de mergulho de uso individual, mais sofisticado, o homem estava chegando a profundidades cada vez maiores. Ao mesmo tempo, crescia a construção de pontes e minas, tornou-se então necessário que fossem realizados estudos para determinar os limites aos quais o homem poderia estar exposto aos ambientes pressurizados e subaquáticos.

Com isso em 1876, Paul Bert, publicou a obra intitulada "A pressão Barométrica" onde inicia os primeiros estudos sobre as alterações fisiológicas do organismo sob pressão.

No Brasil, um dos pioneiros nesta área científica foi o professor Álvaro Ozório de Almeida, cujos trabalhos foram para o tratamento de gangrena gasosa e lepra, isso por volta de 1930.

Em 1995 o CREMESP resolve aprovar a regulamentação do uso da oxigenação hiperbárica, sendo sua indicação de exclusiva competência médica. As indicações para a Câmara Hiperbárica são controladas pela Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica (SBMH), a qual estamos estreitamente vinculados.

Hoje, a Medicina hiperbárica tem duas grandes linhas de aplicação. Uma seria a aplicação clínica e a outra diz respeito à saúde ocupacional e medicina do trabalho, cuidando de doenças advindas da atividade profissional de trabalhadores como mergulhadores e aeronautas.

Na literatura médica, ficou comprovado, com evidencias científicas, os benefícios alcançados no tratamento com OH em relação a: rápida cicatrização, diminuição do tempo de hospitalização e conseqüente redução de custos.

Ao expor o paciente a uma pressão de 2 a 3 atmosferas com oxigênio a 100%, consegue -se aumentar o número de moléculas de O2 no plasma uma vez que com o aumento da pressão o volume do gás diminui. A quantidade de hemoglobina saturada de oxigênio não se modifica portanto não haverá mudança nas condições do sangue arterial e sim da quantidade de O2 no plasma. Uma vez retirado o paciente deste ambiente, os níveis de oxigenação caem e o gás começa a ser eliminado. Para isso é importante a despressurizarão lenta lembrando que o volume do gás está aumentado porque a pressão está sendo diminuída. O oxigênio arterial rapidamente diminuirá, porém níveis ainda elevados de oxigênio permanecerão no plasma permitindo maior oferta de oxigênio aos tecidos lesados.

Vários são os benefícios causados pela utilização da Oxigenoterapia Hiperbárica, porém ainda não se conhece com profundidade todos o efeito produzido por essa terapia.

Os efeitos que estão sendo comprovados são:

1. Hiperoxigenação do sangue e dos tecidos;

2. Vasoconstricção, facilitando o retorno venoso e como conseqüência redução de edemas e pressões compartimentais;

3. Melhora da função imunitária do hospedeiro através da disponibilidade maior de oxigênio necessidade de O2 dos leucócitos e inativação de toxinas de clostrídios;

4. Ação de massa dos gases (lei de Henry); aumento da tensão de oxigênio em todos os líquidos corporais, com valores que podem alcançar até 2000 mmHg quando se respira oxigênio a 100% em um ambiente sob pressão três vezes superior a de uma atmosfera normal.

5. Redução de bolhas (lei de Boyle) na doença descompressiva;

6. Efeito regenerativo: a produção de colágeno depende de O2; há uma hipóxia tecidual relativa no período do intervalo entre as sessões, acabando por exercer um importante efeito de neovascularização nos tecidos isquemiados.

Vale ressaltar que os efeitos de ordem mecânica são temporários e desaparecem ao término da descompressão. No entanto os efeitos biológicos perduram por vários dias. Esses efeitos são sistêmicos e, portanto não há necessidade de expor as lesões ao ambiente hiperbárico.

A Oxigenoterapia Hiperbárica é reconhecidamente uma modalidade terapêutica, que deve ser utilizada, de acordo com os protocolos pré-estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, sob prescrição médica, já visto todos os benefícios que proporciona ao paciente.

• Órgão internacional controlador das indicações de Oxigenoterapia Hiperbárica - UHMS - Undersea and Hyperbaric MedicaI Society.

• No Brasil a indicação foi regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina, através da Resolução CFM -1457/95, e o controle é feito pela Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica.

• A indicação para o tratamento com Oxigenoterapia Hiperbárico é exclusivamente de competência Médica prescrevendo na folha de prescrição médica ou através de um receituário.

• A aplicação da Oxigenoterapia Hiperbárica deve ser realizada pelo médico ou sob sua supervisão.

Nas últimas décadas, graças à regulamentação de sua utilização em indicações, onde existem evidências de sua ação terapêutica, a OHB voltou a ser incorporada, de um modo mais freqüente, ao acervo de recursos médicos. A literatura médica ainda é controversa para algumas indicações, principalmente pela falta de trabalhos que estabeleçam de modo definitivo sua eficácia. Para cada situação descrita existe um protocolo específico de tratamento. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina, regulamentou a modalidade em 1995 para utilização nas seguintes indicações:

1. Embolias gasosas;

2. Doença descompressiva;

3. Embolia traumática pelo ar;

4. Envenenamento por monóxido de carbono ou inalação de fumaça;

5. Envenenamento por cianeto ou derivados cianídricos;

6. Gangrena gasosa;

7. Síndrome de Fournier;

8. Outras infecções necrotizantes de tecidos moles: celulites, fasceítes e miosites;

9. Isquemias agudas traumáticas: lesão por esmagamento, síndrome compartimental, reimplantação de extremidades amputadas e outras;

10. Vasculites agudas de etiologias alérgicas, medicamentosas ou por toxinas biológicas (aracnídeos, ofídios e insetos);

11. Queimaduras térmicas e elétricas;

12. Lesões refratárias: úlceras de pele, pé diabético, escaras de decúbito, úlcera por vasculites auto-imunes, deiscências de sutura;

13. Lesões por radiação: radiodermite, osteorradionecrose e lesões actínicas de mucosa;

14. Retalhos ou enxertos comprometidos e de risco;

15. Osteomielites;

16. Anemia aguda, nos casos de impossibilidade de transfusão sanguínea.

Contra-indicações

Absolutas:

Uso de drogas:

- Doxorrubicin - quimioterápico;

- Cis-platinum - quimioterápico;

(a terapia hiperbárica pode aumentar os efeitos citóxicos destas medicações);

- Dissulfiram - inibidor da enzima que metaboliza o álcool;

(reduz a proteção do corpo contra a toxicidade do oxigênio)

- Pneumotórax não tratado (não drenado)

(pode resultar pneumotórax hipertensivo durante o tratamento da câmara hiperbárica).

Relativas:

• Infecção das vias aéreas superiores com obstrução da trompa auditiva;

• DPOC com retenção de CO2;

• Hipertermia;

• História de pneumotórax espontâneo;

• Cirurgia prévia em ouvido;

• Claustrofobia;

• Convulsões.

Obs.: Esta reação tem seu quadro revertido, quando é deixando de expor o paciente ao oxigênio.

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